A inflação, não é de hoje, anda rondando o bolso do consumidor. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apontou inflação de 0,47% em maio, ante 0,77% de abril. No dia 8 deste mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar mais uma vez a taxa Selic em 0,25%, alcançando 12,25% ao ano. Desde o início do ano, a taxa foi elevada em 1,5% como alternativa para combater a alta da inflação. A atividade econômica do país mostra claros sinais de desaquecimento, o aumento dos juros onera mais o consumo e afeta a competitividade da indústria, alerta Paulo Tigre, presidente da Federação das Indústrias do RS (Fiergs). Em 1980, o país sofria com picos de 40% na inflação. O preço dos produtos chegava a variar no mesmo dia em todos os setores. No início de 2011, a inflação se manteve em 6%, nada perto do que acontecia há duas décadas, mas nada boa se levada em conta a situação atual do país, com salários mais altos e uma população mais consumista. Os economistas afirmam que a taxa de juros deve continuar crescendo até chegar em 7,5%. A inflação é explicada pelo aumento da demanda mundial como um todo. Quando a demanda cresce, os preços aumentam e, por consequência, a inflação também. O objetivo do Banco Central é cortar o mal pela raiz, ou seja, aumentar as taxas de juros para diminuir a demanda e equilibrar a economia. Tudo isso quer dizer, na prática, que a comida e os bens duráveis, por exemplo, ficarão mais caros, e o consumidor será obrigado a conter gastos, comprando menos esse ano do que em 2010. Já o comerciante terá o desafio de saber aumentar o preço sem perder a venda. Na semana passada, o IBGE ainda publicou que o PIB do primeiro trimestre avançou 4,2% sobre o mesmo período do ano anterior. Isto significa maior poder de consumo que é o alimento da inflação. O casal Rosani e Sílvio da Silva, ambos 50 anos, de Arroio do Meio, tem um gasto mensal superior a R$ 350 em rancho e já percebem a elevação dos preços. Rosani, que é cadeirante há 10 anos, e Sílvio, portador de deficiência renal crônica há 12 anos, estão preocupados com os preços dos insumos da alimentação básica. “A cada rancho aqui em Arroio do Meio, o dinheiro compra menos. Por comodidade fazemos compras aqui, mas em Lajeado, onde a concorrência é bem maior, os preços estão bem mais baixos”, alerta Sílvio. “A carne e os hortifrutigranjeiros, que encontram nesta estação sua maior valorização, consomem a maior parte do orçamento destinado”, diz Rosani. As aposentadorias do casal não sustentam os gastos com remédios, entre os quais, muitos que vêm do governo gratuitamente. TAS
A demanda é regulada pelos preços
O embargo da carne suína pela Rússia ainda não tem surtido muito efeito na diminuição do preço, já que há maior volume no mercado interno. Conforme o sócio-gerente do Supermercado Arroiomeense, Juarez Fontana, os preços de alguns cortes de carne suína e de frango tiveram pequena queda entre 8% a 10%. “Pode ser que um repasse maior já tenha acontecido dos frigoríficos para os distribuidores, mas ainda não chegou aos mercados. Por enquanto os frigoríficos estão estocando”, revela Fontana. Quanto aos demais produtos, Juarez diz que está havendo um arredondamento para cima e que o consumidor está atento. “Assim que o preço sobe, a demanda baixa. A linhas de limpeza e enlatados têm recebido os maiores reajustes. O feijão está baixando e os hortifrutigranjeiros estão subindo como consequência da época, da distância e do aumento do custo dos fretes. O tomate e batata sofrem o efeito serrote – você nem chega a vender o produto e já vem outro oferecer com preço diferenciado. O leite e as bebidas estão com os preços praticamente estagnados. Às vezes sobe numa semana e baixa na outra”, conclui Juarez Fontana.
A inflação está de volta?
Para sair da crise financeira mundial que começou em 2008, diversos países desenvolvidos adotaram uma estratégia de afrouxamento monetário, ou seja, emissão de moeda para posterior injeção em suas combalidas economias. Passados pouco mais de dois anos, esse imenso montante de capital encontrou nos altos juros das nações emergentes uma rentabilidade sem igual. Como resultado, as moedas desses países, com exceção da China, têm se valorizado cada vez mais em relação ao dólar. Em um ano, o real, por exemplo, já subiu 10% perante a moeda americana. Diante do avanço da inflação, os economistas do mercado financeiro elevaram pela sétima vez consecutiva as projeções para a inflação oficial neste ano, de 6,29% para 6,34%, patamar que se afasta cada vez mais da meta, que é de 4,50% e se aproxima do teto máximo oficial de 6,5% estabelecido pelo Banco Central. Nem os mais otimistas acreditam que a inflação voltará ao centro da meta nesse ano (de 4,5%) e já crescem as desconfianças de que isso não acontecerá nem em 2012. O temor é que o governo esteja trocando juros mais altos no combate à inflação por medidas que já têm se mostrado ineficazes. Novas medidas restritivas ainda deverão ser tomadas (como, por exemplo, nova elevação da taxa básica de juros) para que o grau de desaquecimento econômico seja suficiente para recolocar a inflação em trajetória compatível.