Burros e pastores na terra do Espírito Santo é o título de um livro precioso. Seu autor, Heinz Friedrich Soboll, foi pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e serviu no estado do Espírito Santo entre 1928 e 1932. Isto explica parte do título. Em relação aos burros é o seguinte: os burros têm a ver com a situação em que os paroquianos do pastor Soboll viviam. Os paroquianos eram imigrantes alemães vindos da região do Hunsrück e da Pomerânia. Cada família recebera um pedaço de terra na floresta e, a partir daí, se virava como pudesse. Não admira que a vida fosse duríssima.
Sem ajuda oficial, os imigrantes estavam largados à própria sorte. Se tivessem dinheiro, quase todos teriam embarcado de volta para a Alemanha. Quem nunca os abandonou, porém, foi a Igreja. Ela mandava pastores para ajudar na organização das comunidades e, quanto possível, amenizar as agruras da vida. Estradas não havia. Como poderiam os pastores visitar os colonos? A resposta é que andavam no lombo de mulas, as mulas, que, no Espírito Santo, eram chamadas de burros. É por isso que o livro se intitula Burros e pastores na terra do Espírito Santo.
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Nascido em Gelsenkirchen, Alemanha, o pastor Soboll chegou ao Brasil aos 23 anos. No Brasil foi ordenado pastor e aqui se casou com a namorada alemã, Hedwig, que em 1930 se juntou a ele para viver na floresta. Tiveram seis filhos. O relato do pastor Soboll ficou num manuscrito que foi encontrado depois de sua morte. Os descendentes organizaram os papéis e, agora, em 2011, fizeram publicar o livro.
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O livro é simplesmente formidável. É apresentado em edição bilíngue (em português e em alemão), de modo que cada página pode ser lida tanto em uma como em outra língua. A narrativa do pastor Soboll dá conta do dia a dia da comunidade, de suas festas e de suas dificuldades. A ênfase vai para as aventuras vividas no lombo de burros. Na sua visão, foram os burros que viabilizaram a disseminação do evangelho entre os colonos no Espírito Santo.
A linguagem do livro é simples e divertida. Acontece que o jovem Soboll é extremamente curioso e não deixa seu bom humor desandar facilmente. Outra coisa, o livro está cheio de fotografias. Heinz Friedrich gostava de fotografia. Para ilustrar a correspondência com a família na Alemanha, enviou mais de 100 fotos sobre os acontecimentos e sobre a paisagem local. Essas fotografias foram conservadas pelo sobrinho Herwig Soboll, na Alemanha, e podem agora ser apreciadas no livro.
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A filha Waltraude, que mora em Teutônia, pode ser contatada para os interessados na obra (traudew@certelnet.com.br).