Será que o escândalo das escutas telefônicas promovidas às escondidas pelo News Of The World servirá de exemplo e acabará com essa imprensa antiética e medíocre, que alimenta-se do pior da raça humana? O semanário inglês de 168 anos fechou as portas esta semana. Mas os grandes grupos tomarão mais precauções, e continuarão com seu noticiário de fofocas, com muitas deduções mentirosas e caluniando gente inocente. Outras nem tanto, mas, mesmo assim, invadidas em sua intimidade por fotógrafos e redatores sem escrúpulos. O público leitor, a grande massa que consome tragédias para sublimar as suas próprias mazelas, consome avidamente esse tipo de jornalismo.
Eles ficam à espreita, vigiam artistas, políticos e outras figuras ilustres sempre esperando o erro fatal. Sim, Amy Winehouse é uma grande cantora, de vida atribulada e tragicômica, mas só acompanhar seu trabalho não adianta. É preciso acompanhar o mico, às vezes escatológico, outras vezes deprimente. Jogar a condição humana na vala mais suja, como a repetir: olhem aí seus ídolos de barro! Conservadores, somos todos. Moralistas de bombachas que, na maioria das vezes, pisam no próprio pala e aí gritam, desesperados, contra a “falta de profissionalismo” das publicações sensacionalistas. Os fãs de musas criadas pela mídia, como Britney Spears, não se contentam com suas canções de fácil disgestão, ou clipes ultraproduzidos, querem as imagens distorcidas dos paparazzi que as flagram sem calcinhas, em boates da moda, ou de amasso com outras celebridades, em excessos que envolvem drogas e álcool.
Escândalo só não é bom quando bate a nossa porta. Aí a casa cai! De resto, estamos de portas abertas aos programas de fofocas, às revistas coloridas com notícias sem cor, sobre a fulana que ficou com este, esta e aqueles tantos outros. É um resurmir-se a tão pouco que chega a envergonhar (quem tem a vergonha no lugar certo, ou seja, muito acima do local focado na maioria das vezes).
É justa a condenação, o rigor na punição aos que foram longe demais. Mas entre os bretões toda a nudez será castigada. Aqui, se desnuda o crime, mas existe sempre uma maneira escusa de se defender o indefensável. Quem mandou se expor? “Se age assim, é porque quer aparecer”. Mas quantos casos sérios, sequestros ou assassinatos misteriosos, foram atrapalhados por “investigações” sensacionalistas? A ressaca da musa, o affair gay de um galã é só a camada mais fina deste submundo que se diz jornalístico. Mas é apenas panfletagem rala em papel caro.
E aí, vamos continuar assinando estas publicações?