“O maior problema atual das famílias chama-se relacionamento. Falta dar o básico para os filhos: amor e educação para formar caráter”.
A constatação é do jovem padre Ronaldo da Silva, 32 anos, durante palestra de encerramento do primeiro semestre na Escola Municipal João Beda Körbes, no bairro Aimoré, dia 15. Diante de professores e pais de alunos, o padre trabalhou uma reflexão sobre os valores da família e a experiência dos limites.
Segundo o sacerdote, existem dois extremos complementares entre a liberdade e o limite. E como o ser humano nasce indefeso e limitado, para sobreviver, precisa conviver. E é na convivência que os filhos acabam aprendendo os desvalores, pois ainda falta-lhes maturidade e consciência para fazer as escolhas certas. Entre as escolhas, o mundo oferece três opções: o que imprescindível, importante e o contingente.
Como seres nascidos sociáveis, o padre afirma que é nas brincadeiras que as crianças acabam internalizando as leis dos limites (ao dividir brinquedos aprendem a ceder para satisfazer seus próprios desejos). Mas como a satisfação pessoal é uma coisa inata do ser humano, a punição, quando necessária e sem extrapolar limites, é salutar e educativa, conclui.
O padre também diz que na fase escolar grande porcentagem das crianças que sofrem bullying (constrangimento exposto sem a possibilidade ou capacidade de defesa) têm problemas de superproteção em casa. E explica que as famílias estão criando príncipes e princesas domésticos que levam para a sociedade um perfil de muito mais direitos do que deveres. Isto explica também por que as crianças expostas a situações de falta de saneamento, proteção à saúde ou criadas mais ao natural, acabam desenvolvendo defesas (imunização) mais fortes. Trata-se da própria resposta do organismo, avalia.
Por último, padre Ronaldo apresentou um vídeo sobre a invenção da infância. Crianças brasileiras em situação de risco, de miséria e sujeitas desde cedo aos afazeres dos adultos. “Além de lhes roubar a infância, as crianças já se sentem no compromisso de ajudar no sustento da família. Expostas a condições sub-humanas de trabalho e mal alimentadas, esforçam-se além da capacidade física para suprir as condições de extrema pobreza da família. E, devido às necessidades materiais, falta aos pais tempo para ficar atento à educação dos filhos, afeto e carinho. E as escolas, com seus professores, não podem jamais dar o abraço que o pai pode dar e transmitir aos filhos”.
O padre Ronaldo é pároco da comunidade de Moinhos, em Lajeado. Paralelamente, dedica-se a um profundo estudo sobre os valores da família e a escola. Em breve lançará o livro Pós-humanismo no qual revela algumas de suas conclusões dos estudos. Desde fevereiro, presta um trabalho de assessoria ao quadro de professores das escolas João Beda e Bela Vista.