O desperdício do dinheiro público é uma chaga que parece insolúvel, além de proliferar em dimensão geométrica. O gasto de bilhões de reais em obras mal feitas, ineficientes, desnecessárias, repletas de desvios e recheadas de denúncias não sensibiliza mais os mortais comuns atentos ao noticiário diário. Ao contrário do que se imagina, este fenômeno não corrói apenas as estruturas de poder de Brasília e suas afiliadas em nível estadual. Aqui, em nossa região, alguns episódios também chamam a atenção pelo desleixo com os recursos que pertencem a todos nós.
A repetição das enchentes me incomoda sobremaneira. Desafia a inteligência dos responsáveis pela busca de soluções para este crônico problema. Não me refiro apenas aos prefeitos, vereadores, deputados, governador e demais gestores. A responsabilização deve ser impingida, por exemplo, aos líderes comunitários que deveriam trabalhar incansavelmente pela conscientização destas populações ribeirinhas que insistem em permanecer nas áreas de risco permanente.
Mesmo com a oferta de imóveis em lugares planos, distantes das cheias, normalmente patrocinada por programas oficiais, é comum a comercialização livre e aberta, mesmo que sem a transferência de propriedade “no papel”. Defendo a necessidade de um grande mutirão para transferir as populações próximas de rios e arroios. É inaceitável constatar que anualmente o inverno arraste bilhões de reais que podiam ser investidos de maneira mais produtiva em educação, saúde, segurança e moradia popular.
É mais fácil (e cômodo) colocar a culpa nos políticos a participar da busca de soluções
O tema é delicado. Envolve proselitismo eleitoral, demagogia que rende votos e prestígio efêmero, mas também é consequência da falta de comprometimento de outros segmentos, distantes da política, a “Geni” do momento, alvo de culpas, pedras e farpas para todos os problemas. Somos coniventes com as irregularidades observadas em núcleos habitacionais populares.
A diarista que serve nossa casa, o flanelinha que zela pelo carro, a faxineira que nos socorre semanalmente e o porteiro do prédio são pródigos em relatar negociatas absurdas com a chamada “venda de chaves”. Carteiraços, tráfico de influência e comércio descarado à margem da lei proliferam impunemente. A tudo fazemos vistas grossas. É mais cômodo colocar a culpa nas autoridades, nos políticos (de preferência), cujas costas largas a tudo abarcam.
Ouço agora no rádio – é terça-feira (9/8), 11h da manhã, as notícias sobre o excesso de chuvas. Os vales do Caí, Taquari e Paranhana são, como sempre, os mais atingidos pela fúria das águas. Rodovias interrompidas, safras perdidas, pessoas desaparecidas, encostas que se desprendem e barram estradas e o trabalho insano da Defesa Civil, das prefeituras e de entidades assistenciais voltam às manchetes. Nenhuma novidade.
A ocupação irracional de terrenos sem qualquer fiscalização e a omissão geral motiva não apenas danos materiais e perdas humanas. Demandam o total descrédito na capacidade do ser humano para fazer frente ao previsível. E dizer que o homem é capaz de criar um engenho que permite os movimentos humanos apenas com a força do pensamento…