Aos 51 anos de idade descubro coisas resultantes da minha experiência de vida. E outras que estavam diante do meu nariz, mas que agora se tornaram visíveis. A maturidade/velhice é um período da vida cercado de mitos, glamour, mas que, no dia a dia, são bastante diferentes das palestras de autoajuda ministradas em cursos de preparação para a aposentadoria.
A expressão “melhor idade”, propalada aos quatro cantos para definir a época dos cabelos grisalhos, certamente é ideia de um publicitário malandro em busca de um mote para um laboratório farmacêutico ou para a campanha de uma rede de farmácias. Sim. Passar dos 50 é aprender a tomar remédio, controlar horário e combinar índices. Do tipo “colesterol bom x colesterol ruim”, “pressão 12/7” e um conjunto infindável de fórmulas para sobreviver. E não vejo nada de “melhor” nesta rotina de empilhar caixinhas coloridas e engordar o “cartão de fidelidade da farmácia”.
O vício da hipocondria agrava a vida de muita gente. Fico pasmo ao ouvir amigos recitarem o nome e os princípios ativos de medicamentos, seguidos do nome de um ou mais médicos especialistas. E se bobear eles ainda fornecem o fone com o lembrete sempre útil: “ele atende por convênio”. Ou “ah… tem genérico que é muito mais barato!”.
Confesso que fui fã de carteirinha do inverno. Fui, mas isso faz tempo. Além da obrigação de tomar remédio para controlar a hipertensão e o colesterol e um terceiro para evitar crises de epilepsia, este ano tive uma infecção na gengiva que, por sua vez, provocou uma infecção na glote (garganta), que me obrigou a consumir uma batelada de antibióticos e anti-inflamatórios.
Meu fígado, claro, reclamou. Resultado: muito remédio causa doença! O trinômio frio, chuva e umidade deveria ser banido do calendário gaúcho!
Já ia esquecendo, mas até pouco tempo usava um quarto medicamento para evitar a queda de cabelo. Mas ao encarar com realismo para o espelho, notei que a luta já estava perdida. E, confesso, a bula ajudou na decisão porque falava claramente na “possibilidade de comprometimento da libido” (vulgo tesão). Melhor não arriscar, certo? Frequentemente sofro com dores nos ombros, pescoço e na lombar. Será a idade? Não deve ser… afinal, as pernas têm a mesma idade e não doem, como dizia meu pai. Costumo sair para dançar com minha mulher. Vamos de táxi para tomar uma cervejinha e espichar a noite até às 4h da madrugada.
A capacidade de recuperação também está seriamente comprometida. O que antes exigia algumas horas de sono reparador hoje compromete minha resistência por alguns dias de sonolência diante do computador. Não existe mágica. Apenas um corpo que exige mais repouso, menos esforço e maiores cuidados todos os dias.
Além de lembrar os bons tempos através de fotos antigas, o inverno maximiza os efeitos da idade. Chuva, umidade, frio. Trinômio que aumenta, sim, as saudades do tempo que ficar acordado de sexta-feira até o domingo, sem dormir, tinha poucos reflexos. Havia energia de sobra para jogar vôlei, lavar o carro, bater bola na várzea, ir ao baile/boate e, de quebra, no domingo de noite, assistir à sessão dupla de cinema em Arroio do Meio.
Bons tempos. Só de lembrar minhas costas começaram a doer!