Eu tinha quase um ano de idade quando, em 1953, se comemorou o primeiro Dia dos Pais. A ideia, é claro, partiu de um publicitário, Sylvio Bhering, que aproveitou o dia 14 de agosto – data de São Joaquim – santo católico – pai de Maria e por consequência avô de Jesus Cristo. Com argumentos tão fortes, os negócios prosperaram a partir daí. Todos passaram a celebrar a data, fossem cristãos ou não. Acredito, inclusive, que a partir daí as indústrias de meias, cuecas samba-canção e gravatas de cores berrantes e duvidosas passaram a bater recordes de vendas. E a entulhar roupeiros paternos. Muitos papais passaram a contabilizar o custo do próprio presente. Mas acabavam gostando do carinho, por mais comercial que possa ter sido a intenção para este dia.
Eu sou um destes tantos pais. Não espero presentes, não ligo para datas pré-fabricadas. Mas se houvesse um presente que eu pudesse escolher, optaria por um gênio da lâmpada, ou fada-madrinha, que me permitisse o dom de estar presente efetivamente no dia a dia dos filhos. Pai divorciado, como tantos outros que deixaram os filhos com as mães, quando saí de casa, deixei crianças ainda pequenas. Eu as visitava com frequência, aproveitava meus finais de semana. Toda a vez em que fora chamado para ver o filho com febre, ou passar um pito por essa ou aquela arte, estava lá. Buscava na escola, levava em algumas festas e, com muita preocupação, em seus primeiros shows.
Mas sempre senti a falta daquela rotina cotidiana. Acompanhar a bronca na hora dos temas escolares, levantar na madrugada para cobrir os pés dos moleques agitados, acalmá-los após um pesadelo. Essas coisas simples acabam impossíveis a distancia. Mesmo com toda preocupação da mãe, em te manter informado, é impossível se manter a intimidade do convívio doméstico. Em seguida eles crescem, e não querem mais te visitar tanto assim. Aceito isso com naturalidade e certo alívio, ao vê-los em busca de novas conquistas em um mundo nem sempre receptivo e, com certeza, perigoso.
De qualquer maneira fico com a lembrança de meu pai, que me ensinou que muito pior seria não saber enfrentar as vicissitudes com equilíbrio e dignidade. Eu jamais me postei depressivo ou acabrunhado na frente dos filhos. Às vezes ranzinza. Mas nunca, além disso, porque, afinal, todo pai é assim, meio xerife. E a saudade, especialmente nos finais de semana em que não estão comigo, transformo em bate-papos com amigos, um filme de ação ou um DVD musical. E a vida segue, com a certeza de que toda gravata amarelo-limão um dia encontrará alguma combinação em meu guarda-roupa, assim como toda saudade se acaba na hora de um abraço que é só amor. O resto é o preço que se paga, como já disse antes, por decisões que não são de ninguém, mas minhas.