E na segunda-feira terminaram as férias da gurizada. Laptop e cama integraram – assim, tão simples e só isso – o kit de necessidades básicas do casal de adolescentes que habitou por 15 dias minha casa e que, por acaso, são meus filhos.
Dormir às 4h da madrugada e acordar às 4h da tarde virou rotina, com pequenas exceções. Até os encontros vivenciados “de corpo presente” (idas ao cinema para se despedir do Harry Potter e passeios a alguns parques e shoppings) eram previamente marcados por computador. A única vantagem deste vício do século XXI se refletia na hora do banho. Apesar do frio e da grande umidade que provocaram uma incômoda sensação térmica, a inadiável necessidade de responder aos colegas, amigos, conhecidos e até desconhecidos que faziam piscar janelinhas brilhantes na tela abreviaram os minutos sob o chuveiro. Exalto com a possibilidade da conta de gás ter diminuído em julho!
Desolado, comentei o fato com alguns colegas de trabalho. E cheguei à conclusão de que nada mais eficiente (e barato) que um divã coletivo, a choradeira comum, a vulgaridade desta doença informatizada.
Eles foram ótimos ouvintes e, de quebra, fizeram eco às minhas lamúrias. Me consolaram. Especialmente um deles, mais velho, que relatou o que foi chamado de “a maratona dos malucos”. Consistia em juntar cinco adolescentes para descobrir até onde resistiriam diante da telinha mágica. Vocês não acreditam, mas o vencedor resistiu 25 horas ininterruptas à base de refri e sorvete derretido. Tudo que pudesse ser consumido através de canudinhos, afinal, não havia tempo a perder.
Independente da idade, os filhos serão sempre crianças e fonte de preocupação
Não formularei odes aos nossos “bons tempos”. Convenhamos que, sob alguns aspectos, nem eram tão bons. Tínhamos três ou quatro canais de televisão aberta em preto e branco. Inexistia o milagroso aparelho chamado controle remoto que permitia duas opções:
1) Levar permanentemente para trocar de emissora ou
2) Assistir ao mesmo canal por horas a fio.
Portanto, não sejamos radicais, apesar da vontade de sumir com os laptops. Pelo menos duas ou três vezes ao mês. É humano tentar entabular uma conversa com mais de três frases, vocês não concordam?
Mas como tudo na vida, a popularização do computador portátil permite pesquisas rápidas, o descobrimento de conteúdos que jamais sonharíamos na época das Olivetti, Remington ou Triunph. Ou do mimeógrafo a álcool.
Querem um exemplo? Para saudade antecipada da mãe, meu filho Henrique, que completa 16 anos em setembro, embestou de viajar ao Canadá por um mês em janeiro. Objetiva conhecer o mundo, aprender inglês com fluência, fazer novas amizades, ver o mundo de outro viés.
Estou eufórico. E, como todo pai, faço uma espécie de transferência, prática altamente condenada pelos profissionais da psicologia. Afinal, nunca pude viajar ao exterior para estudar ou fazer turismo. E – cá entre nós! – não existe coisa melhor que conjugar estas duas coisas para vivenciar uma nova cultura, absorver conceitos de outros povos e desvendar país decididamente desenvolvido.
As férias dos meus filhos, como vocês podem ver, foram calmas. Até demais para o meu gosto. Mas vamos admitir, colegas pais e mães: tem sido muito complicado conceituar “tranquilidade”. Em casa eles são prisioneiros da rede mundial de computadores que despeja conteúdos de todo gênero dentro de casa Já na rua nós, pais, somos prisioneiros eternos do medo doentio. Medo da violência, das drogas, das bebidas, dos malucos do trânsito que dirigem livremente na madrugada e das amizades nem sempre benéficas.
Mas como diria minha falecida vó Wilma Kirst… “para os pais os filhos serão sempre crianças. Não importa a idade.”