Fala-se muito em qualidade de vida. Existe até uma fórmula para avaliar qualidade de vida. É o chamado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), uma medida comparativa usada para classificar países, regiões ou cidades. O resultado se obtém a partir de três principais fontes de dados: a expectativa de vida ao nascer; o acesso à educação e a renda per capita – esta, como indicador do padrão de vida, da capacidade de compra, do acesso a conforto.
Todos os anos os países membros da ONU são avaliados em termos de IDH. No ano de 2010, por exemplo, a Noruega figurava no topo da lista; os Estados Unidos, apareciam em quarto lugar; a Alemanha, em décimo; a Argentina, em quadragésimo-sexto e o Brasil em septuagésima-terceira posição.
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Bom, uma coisa é a medição oficial, outra coisa é a percepção dos indivíduos, ou seja, o que é reconhecido como qualidade de vida pelas pessoas em particular.
Então vem para nós a pergunta: conseguimos sentir que vivemos com qualidade? Se temos boa saúde e acesso à educação, já completamos dois terços da meta. Mas e a capacidade de compra? Quantas coisas é preciso comprar para se sentir realizado?
Alguém pode julgar importante ter em casa persianas que abrem por controle remoto ou um pacote de lenços umidecidos para limpar os seus óculos, sem falar nas viagens de férias. É um fato que o desejo de coisas é incentivado nos tempos de hoje. É incentivado a ponto de nos fazer confundir o que é necessário com aquilo que pode só parecer. Nos tempos de hoje, é fácil misturar o conceito de viver bem com viver rodeado de coisas – muitas coisas, cada vez mais coisas.
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Mas aí, quando você fica mais velho, provavelmente compreende melhor que qualidade de vida ultrapassa os sonhos de consumo atiçados pela propaganda. Penso nisso ao lembrar com saudade de minha avó Elisa, a Nonna. Ela viveu de forma modesta. Jamais embarcou num cruzeiro e provavelmente nem quis. Contudo, tenho certeza de que responderia positivamente, se alguém lhe perguntasse se teve qualidade de vida.
E teve. Conseguiu realizar duas invejáveis façanhas. Primeira: enfrentar com bom humor os percalços da vida. Segunda: atrair filhos, netos e amigos para perto dfogão a lenha no inverno e, no verão, para a cadeira colocada na sombra ao lado da casa.