Ao questionar quais as implicações dos afetos na vida do ser humano, a psicóloga Valquíria Breyer Lopes convida você, leitor, a olhar um pouco para sua estrutura familiar: “com certeza voltarão cenas como a notícia de uma gravidez na família, as reações de cada um, as expectativas quanto ao sexo do bebê, a curiosidade sobre cor dos olhos, dos cabelos, traços do rosto, etc.”
Passado o tempo de gestação, tempo que estava sendo nutrido através de um cordão umbilical, é hora de vir ao mundo, surge diante de nós um ser pequeno e indefeso, que depende de outros seres para sobreviver e partir de então “a sobrevivência da criança não depende apenas de nutrientes que possibilitem seu crescimento físico, necessita de nutrientes afetivos, que serão determinantes na sua estruturação psíquica”, sentencia Valquíria.
Os nutrientes afetivos são oferecidos ao bebê de diversas formas. Todas as sensações visuais, táteis, olfativas e sonoras percebidas pelo bebê estarão nutrindo-o afetivamente, mas, embora a mãe dedique grande parte do seu tempo a isso, Valquíria atenta que é de fundamental importância que também o pai participe desse processo de “nutrição afetiva”. Além de fortalecer essa nutrição, ele exerce um papel importante nessa relação dual de mãe e filho, “ele tem o papel de ‘cortar o cordão umbilical’ subjetivamente mostrando tanto para a figura da mãe quanto para figura da criança que elas por si só não se bastam e que também não são um ser único”, explica. E a partir do momento que o desejo de mãe e o desejo de pai estão instalados nessa relação triangular, mãe-pai-filho, a criança se sentirá desejada, segura, e seu sistema psíquico irá aos poucos se constituindo e reconhecendo estas investidas maternas e paternas como forma de afeto, de acalento e segurança.
“A afetividade não tem implicações apenas nos comportamentos de interação social do ser humano, ela influencia decisivamente na percepção, na memória, no pensamento, na vontade e as ações, sendo, assim, um componente essencial da harmonia e do equilíbrio da personalidade humana. Considerando tais implicações, diversos estudiosos assinalam que para uma criança aprender, construir seus conhecimentos, desenvolver seus processos investigativos para formular suas ideias não basta uma estrutura física (corpo) e um aparato cognitivo (intelecto), a afetividade se faz necessária.”