Acompanhado da minha mulher, minha mãe e cachorro, caminhei pelas ruas de Arroio do Meio no último sábado à tarde. Reencontrei amigos, conversei com velhos colegas de colégio, minha esposa fez compras – fato totalmente normal e que aconteceria em qualquer do mundo em que ela estivesse! – e meu maltês definitivamente não curte “fazer shopping” porque não parou de latir um minuto.
A surpresa foi reservada quando atravessei a rua para dar um abraço na dona Martha Petry, querida e simpática amiga que observava o movimento em frente da rua do Salão Paroquial. Um de seus filhos, amigão Luiz Petry, veio ao meu encontro através da grade que separava a casa da rua.
Estranhei não apenas as barras de proteção, mas o fato do portão ficar chaveado. “Depois que minha mãe tomou conhecimento do sequestro de uma vizinha, bem aqui na frente, não tem santo que a tire de casa”, lamentou Luizinho. Ele me contou rapidamente as circunstâncias da ocorrência que acabou com a soltura da vítima – mãe de outro grande amigo – em Lajeado. Pedi para repetir a história, tamanha estupefação que me deixou confuso, revoltado e indignado.
Episódios de bebedeiras, consumo público de drogas, badernas generalizadas e furto de veículos já eram de meu conhecimento através de relatos da minha mãe. Mas um sequestro, em plena luz do dia no Centro a partir da abordagem na calçada, eu jamais imaginaria saber na outrora pacata Arroio do Meio.
Infelizmente para ter filhos não é preciso preparo algum.
Basta colocá-los no mundo sem compromisso algum
A violência chegou ao ponto de obrigar as vítimas a torcer para que os marginais sejam experientes e/ou que não estejam sob efeito de drogas. Dizem os especialistas que os felizardos – aqueles que ainda não foram assaltados ou sequestrados – não devem comemorar, mas agradecer em oração aos céus “Entrar para a estatística é apenas uma questão de tempo”, preveem os especialistas em segurança pública.
Crack, maconha, cocaína e outros entorpecentes estão em toda parte. É impossível coibir o tráfico e o consumo através do policiamento ostensivo, embora isso seja importante para intimidar a prática. O antídoto, no entanto, está no investimento maciço em educação, e prevenção, inclusive entre pais e responsáveis.
O descompromisso com a educação dos filhos, o pouco-caso em conhecer colegas e amigos e a ausência sistemática do envolvimento na rotina escolar resulta em adolescentes desajustados em busca de limites. Daí à pratica de delitos é um passo.
A cada final de semana, presencio cenas inomináveis em bairros que sediam bares e casas noturnas de Porto Alegre. Esse fenômeno se repete em comunidade de todos os portes, mas têm como causa a mesma gênese: a incapacidade de uma multidão de homens e mulheres de terem filhos. Minha mãe costuma dizer que para tirar carteira de motorista, casar, batizar um sobrinho ou concorrer a qualquer concurso é preciso um curso preparatório.
Infelizmente a função de pai/mãe dispensa experiência ou preparo. Parece que basta colocar os filhos no mundo que o resto se ajeita. Supremo engano, cujas consequências são impingidas a toda sociedade.