Nas várias décadas em que vivi a amplitude e as exigências do Marketing e o fascínio e desafios da Propaganda – esta, um dos integrantes daquele – aprendi o suficiente para saber que poucos trabalhos são tão difíceis de planejar e criar quanto uma campanha que vise à redução (eliminação, ainda não se pensa) dos acidentes de Trânsito no Estado. Ou se preferirem, uma Campanha de Educação no Trânsito, que penso, deveria ter uma estrutura um pouco diferenciada.
Melhor do que eu, o próprio Marketing explica tudo em uma de suas mais curtas e amplas definições e, por isso, uma das que mais utilizo: “Marketing é a Vida do Produto.”
Você tem a ideia do que seja a vida do produto Trânsito Gaúcho que uma campanha necessariamente buscará motivar tentando mudar para melhor suas várias instâncias e comportamentos?
Busco um pequeno exemplo em outro produto: a frase “quem constrói escolas não precisará construir cadeias” é impactante e até certo ponto, verdadeira. Só que, em um país no qual os criminosos se multi-plicam, muitas das Leis são “permissivas” e a carência de unidades prisionais leva a libertar até criminosos confessos, como construir escolas e esquecer dos presídios? Pois, entendam, o Trânsito no RS é, também, refém do passado e do presente, igualzinho à Segurança.
Faz parte do Trânsito, por exemplo – e engorda as estatísticas anuais – o motorista que ultrapassa, em duas, três vezes, o limite de álcool no sangue e, guiado por essa ultrapassagem, seu veículo atropela e mata diversos pedestres (cena que certamente se repete, no mínimo, de 12 a 18 vezes/ano no Estado, imagino).
A Lei fala no uso do bafômetro, o que já se sabe (prova contra si mesmo) não é obrigatório.
Por este ângulo, ficam eliminados em um só gesto, o inimigo de maior peso e a testemunha de corpo presente, os únicos capazes de garantir a punição do criminoso.
No RS, basta voltar cerca de 3 anos no tempo para encontrar um Comandante da Brigada que decidiu encarar o desafio e colocar em dia os que desafiavam a Lei.
Não raras vezes, viu-se que a multidão o aplaudia em seus deslocamentos e participações nas “batidas policiais”. Que fim levou ele?
A mim, nesta matéria, interessa dizer que o produtivo trabalho por ele realizado, de melhora e limpeza no Trânsito Gaúcho, entre outros, deixou de existir, pelo menos com aquela intensidade.
Como educar para um Trânsito organizado se quem decide o que fazer do motorista bêbado é o próprio?
Daí, se deduz: Educação é uma coisa e Redução do Número de Acidentes e Mortes é outra, diferentes entre si, mas ambas necessárias.
Entendo que Educação para o Trânsito deveria ser matéria, no mínimo, semanal, nas Escolas de 1º e 2º Graus e até, (por que não?) em Faculdades onde haveria, inclusive, a possibilidade de se poder aplicar punições que impedissem o direito de dirigir durante algum tempo, punição ditada ao aluno pelo tamanho da falta, se comprovada.
No Trânsito Mundial existem Veículos modernos para o transporte de passageiros, entre eles, os TGV’s, (Trens de Grande Velocidade), capazes de minorar o número de mortes e facilitar a aplicação de bons projetos na área do Marketing.
De 1816 a 1822 (há cerca de 190 anos, portanto), Auguste de Saint Hilaire visitou-nos a convite do Imperador – na época, D. João VI.
Botânico e naturalista francês e conterrâneo do Conde D’Eu, Saint Hilaire encantou-se com o que viu e viveu aqui e descreveu maravilhas sobre a lagoa dos Patos, hoje laguna, o rio Guaíba, hoje lago e escreveu o que poderia ter sido levado em consideração e experimentado já a muito tempo: “Situada à mar-gem de uma Lagoa que se estende até o mar, podendo ao mesmo tempo comunicar-se com o Interior por vários Rios navegáveis – cuja foz fica diante de seu porto – a Cidade deve, necessariamente, tornar-se, em breve, rica e florescente. Fundada há cerca de 50 anos (48, quando ele aqui esteve), já conta com uma população de 10 a 12 mil almas.”
Há 190 anos, Saint Hilaire percebeu, ficando em Porto Alegre por alguns dias, a ligação interior/capital via fluvial. Por quanto tempo arrastou-se a ligação fluvial com o Guaíba, que deverá iniciar em outubro? E quando poderá ser estudado, em benefício do Interior Gaúcho, uma ligação aproveitando o que sugeriu Saint Hilaire?
Sempre me preocupou o como fazer um Marketing efetivo para modificar o conceito de qualificação do Trânsito em uma cidade cercada por lagos, lagoas, rios e rodovias, uma vez que só estas nos merecem atenção, justamente as que mais rapidamente se deterioram, mais verbas exigem e mais acidentes provocam?
Como fazer constar em um projeto que contemple também o Interior Gaúcho, a qualidade do Trânsito possibilitada pelo uso de metrôs, por exemplo?
Já pensou? A hoje decantada ligação Porto Alegre-Litoral, facilitada a partir da Linha 2 do Metrô, que sairá da Esquina Democrática e irá até a FIERGS, na beira da Free-Way?
A Ciclovia, ao longo da Ipiranga, será um bom ponto de partida para observar parte do que escrevi aci-ma. E que é, simplesmente, aproximar sonho e realidade, num Estado em que é difícil controlar o número de veículos existentes e o crescimento dessa frota.
Sonhar é o primeiro passo para realizar. Venho insistindo há horas. Só que dá para sentir que o amanhã é hoje. E que a maior parte das mortes no Trânsito pode e deve ser evitada. Em nosso nome e em nome de nossos filhos e netos.