Cena comum é a mulherada nos carros – no banco do carona – é claro, entretida em seu make up matinal. Tenho amigos que consideram sexy este momento entre cosméticos e espelhos, ao lado do motorista. O lápis a tornear os olhos, bastões coloridos a dar cor e brilho nos lábios entreabertos. E o melhor: aparentemente elas estão distraídas e com certeza desinteressadas em quem as espia a partir dos veículos próximos. É quase um ritual de voyerismo – a prática de espiar alguém sem que este saiba – em pleno caos urbano.
Na semana passada, assisti a uma perigosa variação desta prática: uma loira, em um sedan preto importado, transformava seu veículo em salão de beleza, em pleno agito da avenida Castelo Branco, na entrada de Porto Alegre. Estava só, sem motorista e, por mais moderno que fosse seu carro, ainda não existe um piloto automático tão avançado assim. E ela lá, espelho retrovisor virado para seu rosto, a maquiar-se com um kit que, diante da quantidade de itens que levava ao rosto, deveria ser completo: base, lápis, sombras, batom, rímel e pó compacto. O carro rodava, no lento anda e para do tráfego em seus horários de maior pique.
Encerrada essa primeira parte, ela passou a escovar o cabelo. Dispensou janela afora, os fios que se soltavam. Fechou o vidro e, de repente, a farta cabeleira abria-se enquanto movia o pescoço lentamente, igual àqueles comerciais de shampoo em câmera lenta. Não descobri se utilizava o vento do ar-condicionado ou algum secador instalado no painel. Engraçado para quem observava de fora, mas, com certeza, perigoso. Dirigir de maneira displicente no tráfego enlouquecido das primeiras horas do dia é insano, com ou sem maquiagem. Quando a ultrapassei, percebemos que ainda carregava um cigarro na mão esquerda. Acumulava dois hábitos bem nocivos à saúde: direção de risco e o vício do fumo.
Horas depois, relatei a cena em meu blog e Facebook e uma prima – igualmente motorista – respondeu com um gracejo de grande fundo de verdade: “somos ótimas, temos reflexos muito mais rápidos do que vocês homens”. Está certa. E tem um bom livro – leve e de fácil leitura – sobre o tema: “Homem Cobra, Mulher Polvo”, de Içami Tiba, que trata da relação entre mulher e homem em seus diversos aspectos. Publicado pela Editora Gente, traz relatos muito semelhantes ao narrado acima.