Interessante comparar as formas de enfrentar os desafios domésticos, no intervalo entre algumas décadas atrás e os dias de hoje. Antigamente, educar crianças era uma coisa relativamente simples. Havia certas regras de aplicação indiscutível. Filhos obedeciam aos pais; jovens obedeciam aos mais velhos e pronto. Para os casos de rebeldia, o recurso do castigo estava à mão. Bem à mão, aliás, pois a palmada era um corretivo farto e fácil. A desobediência tinha de ser cortada na raiz – por bem ou por mal.
Sim, também se conversava com os pequenos, mostrando o bom caminho e, principalmente, os perigos de embarcar no bonde errado. E não era tão difícil distinguir o certo do errado. Os adultos pareciam identificar um e outro sem piscar. Histórias e canções eram aliados do processo formativo. Traziam exemplos a imitar.
Ou seja, conselhos e exemplos não faltavam. Mas se uma criança não conseguisse aprender por bem, então teria de aprender por mal. Lá vinha a palmada, o chinelo e a surra propriamente dita, fosse em casa, fosse na escola.
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Não peguei mais o tempo em que os professores batiam nos seus alunos, mas lembro de colegas que tinham seu quinhão em casa. Se era verão e algum menino aparecia na escola de calças compridas, todo o mundo já sabia a causa. Nem era preciso dizer nada. As calças compridas escondiam as marcas de uma surra. O curioso é que ninguém tinha muita pena de um guri usando calça comprida no verão. O entendimento era que a surra não teria vindo sem motivo. Inadmissível era tolerar criança malcriada.
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Todo o debate que voltou agora sobre a proibição de dar palmada é oportuno. Não sou a favor de violência, muito antes o contrário. Mas ao que parece esta história da palmada está roubando espaço da questão de fundo. Ou seja, o foco não deveria ir para a palmada. O importante é encontrar formas de educar bem as crianças. Mudaram os tempos, mas elas, contudo, devem aprender a respeitar hierarquias e normas. O complicado é ensinar isso, sem roubar dos pequeninos a certeza de que são amados.
Agora… fazer vista grossa para a insubordinação, corresponde a iludir, em vez de educar devidamente. De um jeito diferente, o fato de não ensinar regras é também uma violência que se pode cometer contra as crianças. Vai produzir consequências negativas, tanto na vida delas como na vida da comunidade. É só uma questão de tempo.