A polêmica da palmada na criação dos filhos volta à pauta. É daqueles temas importantes, mas que, devido à recorrência, se tornam enfadonhos. A novidade é um projeto de lei federal que impediria a prática do que seus defensores chamam de “maus tratos à criança”.
Nasci em 1960. Sou da geração “antiga”, que conhece na pele a expressão “a vara de marmelo vai cantar se tu não obedecer”. Pertenço, por extensão, à legião que levou palmada, puxão de orelhas e castigos do tipo ficar no quarto de luz apagada ou ser proibido de sair com os amigos no final de semana.
Muita gente da minha época mantém até hoje uma revolta interna gerada pelos hábitos exagerados dos pais daquele tempo. Outros, como eu, convivem com a compreensão de que os tempos mudaram e que, naquela época, psicólogos e orientadores pedagógicos não existiam.
Minha discordância não está na palmada, mas na intromissão do Estado na educação dos filhos. Discordo, isso sim, do tipo de “educação” que vislumbro nas madrugadas ao buscar minha família em festas. Contesto com veemência os pais que “terceirizam” o processo de educação, culpando professores, apontando amigos dos filhos e se eximindo da responsabilidade de “mostrar o certo e o errado”.
Energia não é violência e a palmada pela palmada deve ser condenada. O diálogo deve ser esgotado, mas há casos de afronta física que exigem reação. Tenho visto cenas surrealistas em supermercados, shoppings e outros lugares públicos. Crianças que se atiram ao chão aos berros exigindo presentes ou guloseimas são fáceis de serem encontradas. Assim como também é “normal” a apatia dos pais que, temendo um fiasco diante de outras pessoas, capitulam. Fazem a vontade dos birrentos e com isso estimulam um comportamento antissocial que se torna rotineiro.
Melhor que proibir palmada por lei seria educar os pais para assumirem suas responsabilidades
Tenho dois filhos, como vocês já sabem. Com 16 e 17 anos, têm seus “ataques de fúria” sem, é claro, “shows” públicos. Encaro com normalidade e atribuo muitos episódios à explosão de hormônios, pressão social e necessidade de se fazer notar. Admito que me estresso em demasia. Deveria ser mais “desligado” e poupar meus nervos. Mesmo assim, contesto estes desequilíbrios sempre para não parecer que sou conivente.
Até hoje meus filhos sofrem cortes de privilégios quando não andam na linha. São grandinhos, mas os limites são constantemente demarcados, reforçados e cobrados. Trata-se de um processo cansativo, repetitivo e que me deixa muitas vezes frustrado, impotente. Mas os resultados se mostram animadores, corujice à parte. Na convivência com amigos, na casa de colegas ou em ambientes estranhos, eles são educados, cordatos, respeitadores. E isso não tem preço!
Proibir a palmada através de lei me parece uma demasia. Se não houver conscientização dos pais dificilmente teremos mudanças no comportamento da gurizada. É dentro de casa que está o maior e mais eficiente exemplo. Sempre!