No sábado passado comemorou-se o Dia do Professor.
Depois de quase uma vida em sala de aula, me arrisco a enfiar a colher no debate sobre as delícias e as dores do ofício.
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Primeiro, as delícias.
O médico convive com a doença e a morte. O advogado, com a desavença, o conflito. Outros profissionais lidam com a monotonia dos papéis ou com a dureza da máquina. Já o professor trabalha com a primavera da vida. Quero dizer, lida com gente no fulgor da existência, que está cheia de sonhos e tem todos os caminhos abertos diante de si. O professor respira a juventude que pulsa a sua volta – ambiente melhor não pode existir.
A colheita do esforço do mestre, de outra parte, pode durar anos e anos. Volta e meia aparece alguém com palavras amáveis, para dizer que ficaram saudades e marcas. Vem gente dizer que temos uma palhinha na felicidade que foi conquistada. Uau!
Você vai dizer que satisfação não enche a barriga. Seria apenas salário invisível. Pode ser, mas é salário também, claro que é.
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Algumas das dores.
Ajudar as crianças e os jovens a captar o que é aprender. Quero dizer, a compreender uma coisa que a vida vai continuar ensinando depois: a compreender que ninguém almoça de graça. Aprender é ótimo, mas não é algo que sucede por mágica. Aprender pede esforço. Avançar é resultado de esforço. Ou seja, sem pagamento, não tem almoço nenhum. Assim é a vida.
Outra coisa, em casa, o amor é incondicional. Papai-mamãe-titia-vovó se derretem pelo simples fato de a gente existir. Na escola, cabe aprender a sobreviver fora do afeto total. Nem todos são gamados por nós. Agora, existem regras e bem chatas às vezes. Nem tudo se tem, nem tudo se pode. Assim é a vida.
Se o professor for camarada demais, vai ser complicado entender esta lição. Se a escola não fizer valer o que diz, pouca gente vai aprender a confiar nas palavras, a respeitar os preceitos, a agir com disciplina. Ensina a estudar de verdade, quem cobra de verdade o estudo. Mas, claro, é preciso fazer isto “sin perder la ternura”.
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Ou seja, sobejam as dores; as delícias são parcas.