Lembro o dia que o pai chegou em casa contando uma novidade incrível: no futuro seria possível trocar o canal da TV de longe, quer dizer, sem levantar da cadeira e sem mexer nos botões do aparelho e na chave da antena fixada na parede ao lado. Quase parecia lorota, mas se o pai garantia…
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Observo minha neta de 3 anos a trocar o canal da TV usando o controle remoto. Ela maneja o instrumento como se fosse nada. Como se fosse nada, sabe falar ao celular e pode ajustar a temperatura do ar condicionado. Não só isso, liga o computador e digita alguns sinais, dizendo que vai mandar email para combinar um passeio com o tio.
É certo que um dia vou pedir a ajuda dela, quando me apertar no uso de eletrônicos…
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Não fico triste nem assustada com a “sabidícia” desta nova geração. A vida caminha para a frente. O que terá pensado minha avó ao ver seus netos dirigindo carros, ela que precisava lidar com os cavalos como meio de transporte para ir na venda?
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O caso é que toda moeda tem seu outro lado.
Como será que a nova geração se arranjaria, se tivesse de pegar um cavalo no potreiro e encilhá-lo quando fosse às compras?
Como se sairia para amassar o pão, juntar gravetos, acender o fogo e esquentar o forno? Depois, controlar “no olho” a temperatura, sabendo a hora certa de colocar as formas e quanto tempo deixá-las no calor?
Como se veria a nova geração, se tivesse de matar e depenar galinhas para dispor de carne no almoço de domingo?
Como daria conta de carregar cestos de roupa para o tanque e seguir o ritual de lavar-quarar-enxaguar-torcer, ritual que garantia roupa branca e pronta para a etapa seguinte. A saber, ser engomada e passada com ferro de brasas retiradas do fogão a lenha?
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Ou seja, os velhos também têm um balaio de saber. A questão é que os saberes novos vão botando os anteriores no chinelo. É simplesmente isso. A vida caminha para a frente.