Quando a gente acha que tudo está às mil maravilhas, o destino resolve pregar uma peça e tudo muda. Depois dos percalços de saúde que enfrentei no inverno gaúcho – relatados neste espaço para pavor da minha mãe – pensei que nada mais me abalaria. Que eu caminharia célere em direção ao verão através das coloridas vere¬das da primavera.
Ledo engano, como diria o poeta de antão!
Esta semana sofri um revés que certamente já atingiu você, leitor. E a leitora.
Uma perda difícil de repor, ao menos com a rapidez necessária.
Criou-se uma lacuna que acarreta prejuízos à rotina da família. Mexe com horários, atividades e a qualidade de vida de todos em casa.
Falo do pedido de demissão da minha diarista, a antiga empregada doméstica. Mas neste mundo cheio de regras, restrições e hipocrisia, este termo é “politicamente incorreto”.
Tão logo a tragédia se abateu sobre a família Jasper, disparei e-mails a todo o meu mailing, estrangeirismo que define o grupo de pessoas com as quais me correspondo assiduamente pelo computador. Também enviei torpedos pelo celular. Hoje – e isso é verdade! – levei minha aflição à vendedora de jornal que trabalha numa sinaleira perto de casa.
Normalmente compro dois exemplares do Diário Gaúcho: um deles leio no trabalho e outro dava de presente à ingrata diarista que nos abandonou.
– Hoje o senhor vai comprar só um?” – perguntou a jornaleira.
– Infelizmente sim. Mas se tu me arranjar uma empregada volto a comprar dois jornais todos os dias e ainda te dou uma gorjeta!” – disparei para pavor da minha filha que achou “o maior mico do mundo!”.
Agora, lá em casa, todo mundo tem
tarefas a cumprir para manter a ordem
Fazer o quê? Afinal, trata-se de uma emergência de extrema urgência que requer o uso de todas as armas disponíveis. E isso inclui amigos, colegas de trabalho, vizinhos e até a vendedora de roupas masculinas que me atende. Ela também já sabe da necessidade de contratar uma “auxiliar doméstica”.
Por telefone, a balconista me falou da liquidação, dos lançamentos de primavera e as novidades à venda. Disse que adoraria visitá-la, mas no momento era impossível:
– Não posso conhecer as novidades. Estou sem empregada. E alguém precisa lavar a louça, botar a roupa na máquina, passar, varrer a sala e limpar os banheiros – lamentei.
Ela jurou agilizar uma solução, mas nos últimos dias esta é a promessa que mais ouço. Sem qualquer resultado prático.
As empregadas domésticas são figuras em extinção, raras e mais importantes que o controle remoto da tevê ou do ar-condicionado e até mesmo mais necessárias que o carro da família.
Já disse aqui que o único conselho que repasso aos amigos recém-casados é nunca – jamais! – discutir com a empregada. E se o descuidado ameaçar a esposa depois de uma discussão e disser “ou a doméstica ou eu”… certamente amanhecerá com as malas diante da porta.
Enquanto meu celular não tocar ou não chegar um e-mail com a mensagem mágica “tenho uma empregada pra ti!”, fico a distribuir tarefas por escrito ao sair de casa. É a nova rotina da família que, com solidariedade e bom vontade, será absorvida. Por enquanto o humor da “patroa” não sofreu abalos, mas é melhor não abusar da sorte!
Desculpe “lavar roupa suja” neste espaço, mas se alguém souber de alguma empregada disposta a trabalhar e que saiba cozinhar e goste de cachorro, mande um e-mail!