Para começo de conversa, aviso que vou tratar de um tema em que a minha opinião é clara. Não serei isento, nem imparcial ou hesitante. Vou escrever sobre a perenidade do jornal impresso. Este jornal que a gente manuseia, às vezes nos suja as mãos, mas que podemos recortar e guardar, consultar todos os dias e mostrar para os amigos. Assim como a gente fazia antigamente com as fotos que eram copiadas em papel.
No jargão jornalístico sou o que se chama de um “canetinha”, um aficionado pelo jornalismo escrito. Já ouvi milhares de vezes que estamos com os dias contados por causa da tal de internet. Segundo os catastróficos de plantão, o mesmo deve acontecer com os livros, revistas, enciclopédias e outros congêneres.
O estranho dessa profecia de porta de rodoviária é que em todos os lugares onde se realizam feiras do livro o sucesso é cada vez maior. Aqui em Porto Alegre, onde na sexta-feira se iniciou a 57ª Feira do Livro, a polêmica se instalou porque muita gente quer tirar a mostra da Praça da Alfândega por absoluta falta de espaço.
Em diversas cidades do interior, as feiras constituem ponto de encontro da comunidade com artistas, escritores e livrarias e dos próprios moradores. Não tenho a pretensão de exorcizar a internet. Considero uma ferramenta incrível, mas que não vai substituir o livro, nem o jornal, nem o cinema. Acho, ao contrário, que a rede mundial de computador vai melhorar as publicações. Vai obrigar as mídias tradicionais a uma modernização com base na interatividade e na maior velocidade de informação.
Outra faceta projetada com a invasão desenfreada da internet será o incremento do conteúdo, o aprofundamento das matérias ou o oposto: jornais leves, sucintos e com muitas notícias pequenas, como o tradicional Correio do Povo. O super sucesso de público que é o Diário Gaúcho ou o recém-lançado Metro, da Rede Bandeirantes de rádio e tevê, que circula há uma semana em Porto Alegre.
A internet vai determinar a modernização dos veículos tradicionais como o jornal e o rádio
A mecânica do jornal impresso é quase artesanal, apesar do inegável incremento tecnológico. A notícia veiculada no jornal de hoje é, na verdade, a repercussão da notícia de ontem. O que fazer? Uma alternativa é a criação de novas editorias (as populares “sessões” dos jornais) com temas mais modernos e atuais, fugindo da mesmice que marca a trajetória de diversas publicações que acabam soçobrando.
Quando eu fazia reportagens para o nosso O Alto Taquari e editava o jornal, costumava ir a Lajeado, nas oficinas do Informativo (que naquela época não tinha o adendo “do Vale”) onde era impresso. O banco do carro ia repleto de recortes, envelopes, fotos, laudas com textos e uma imensa papelada.
Hoje tudo é feito via internet: do texto à remessa para a gráfica. Tudo limpo, silencioso, sem contato pessoal algum. Apenas uma troca de e-mails. A única coisa que não mudou foi a sensação do cheiro de tinta quando a pilha de jornais chega à cidade para ser distribuída aos assinantes e leitores.
Como disse na primeira linha, sou um apaixonado pelo texto impresso. Não consigo ler jornais no computador e só faço isso quando a curiosidade quase acaba comigo.
Talvez eu seja vencido logo ali adiante, afinal, aos 51 anos diariamente deparo com o desafio de manter meus princípios sem abdicar, também, da modernidade para sobreviver e ter mais conforto.
Além disso… não quero ser chamado de dinossauro pelos meus filhos e pelos meus leitores