Lá estava eu na fila do açougue pensando no churrasco do domingo. Pouco antes de me decidir, cruza por mim um casal de amigos que não via faz tempo. Conversa vai, conversa vem e ela diz pro marido “Acho que ele é a pessoa certa,” apontando indiscretamente para mim. Ele concorda e me pergunta se eu poderia ajudá-los em um evento beneficente de Natal, ainda na primeira quinzena de dezembro. Nem pensei duas vezes: é claro que sim. Dependeria de minha agenda profissional, mas, sempre que possível, não deixo de apoiar a comunidade em eventos desta natureza. E o que deveria fazer? Arrecadar donativos?
Brinquedos, roupas e até balas e lanches eles já tinham garantido para a meninada e familiares. Fruto de um dedicado trabalho iniciado ainda em janeiro. O que lhes faltava era um bom e fofo Papai Noel. Enquanto a fila andava, percebi meu reflexo no vidro embaçado do freezer das carnes e percebi onde ela queria chegar com a observação que eu era “a pessoa certa”: um gordinho bonachão, que com barbas de algodão e barriga e bochechas de verdade faria a alegria da criançada. O açougueiro me perguntou o que eu escolheria nesta semana e estranhou quando pedi um alcatre – nada de costelas ou salsichões gordurosos. “Quem sabe uma maminha?” E concordei, desde que fosse magra.
Respondi ao casal que dezembro era um mês difícil, mas eles insistiram. “Tens jeito com crianças”, foi o argumento deles contra minha ironia: “todo gordo é simpático, não é?” Até a vestimenta, vermelha e imensa, já haviam comprado. Ainda não decidi aceitar. Nem é uma questão de vaidade, ou tentativa de fugir a um evento solidário. Eu realmente tenho paciência e gosto de ver a criançada feliz nestas festas. Só que a gordura simpática de um Papai Noel carrega uma série de riscos à saúde. E não tenho certeza se consigo evitar as tentações do sedentarismo e da gula. Péssimo exemplo! O legal seria aceitar o convite em outras condições. No peso ideal, vestindo uma roupa com enchimentos para criar o manequim “bom velhinho” que, assustadoramente, se apodera de mim na vida real.
OK! Tenho a remota possibilidade de dizer sim e, em seguida, entrar em dieta. Mas alguém aí elimina calorias neste período de ceias? Esqueça! E se eu emagreço e, no ano que vem, concluem que tenho o perfil de jumento do presépio vivo? Ops! Acho melhor tratar da estima que anda lá por baixo. E que venha Noel.