Fiquei impressionando com o latrocínio – roubo seguido de morte – ocorrido no Centro de Arroio do Meio na semana passada. Uma pessoa foi morta e outra ficou gravemente ferida no rosto.
Há muito tempo a violência ultrapassou os limites das grandes metrópoles, enveredou pelas cidades médias e invadiu as pequenas comunidades, outrora pacatos lugares para criar os filhos ou gozar da aposentadoria e atravessar as ruas sem olhar para os lados. A proliferação assustadora do consumo das drogas, nas mais variadas formas, quase sempre está na raiz de assaltos, estupros, furtos violentos e outras ocorrências que pulverizam o noticiário policial.
Associadas ao álcool, as substâncias psicotrópicas respondem por quase 90% dos homicídios. Isso se explica com facilidade. Adquirir drogas é tarefa de fácil execução em escolas, casas noturnas, estádios de futebol, shoppings e locais públicos em geral. O crack, que monopoliza a preocupação de pais, professores policiais e autoridades de saúde, invadiu silenciosamente as relações sociais. Hoje é um fato consumado.
O crime perpetrado numa pensão no Centro de Arroio do Meio é, por tudo isso, emblemático, altamente preocupante. Fala-se em vingança ou acerto de contas, o motivo pouco importa. O que parece notório é que matar se tornou um fato banal. Um amigo, assaltado quatro vezes nos últimos três anos em Porto Alegre, sintetizou da seguinte maneira o descalabro atual:
– Ao ser assaltado, o cidadão de bem reza para que o malfeitor seja um criminoso experiente ou que esteja “de cara limpa’, ou seja, sem os efeitos de drogas no momento do assalto.
Parece uma ironia ou piada.
Ao ser assaltado, o cidadão reza para que o meliante tenha experiência ou que não esteja sob efeito de drogas
É uma triste realidade que ignora classe social, horário ou lugar. Explosões de agências bancárias, ocorrência jamais imaginada em cidades ordeiras e silenciosas viraram rotina no interior do Rio Grande do Sul. O mesmo acontece com postos bancários ou terminais eletrônicos. Tudo pelo dinheiro que viabiliza a compra de armas, drogas e munição que subsidiam os crimes de todo tipo.
Sair à rua sempre foi uma atividade perigosa. Seja pelo trânsito, seja pelos riscos inerentes à violência dos crimes contra a vida e o patrimônio. Parece que a cada dia voltar chegar são e salvo em casa, no final de cada jornada diária, é uma façanha digna de homenagem.
Os efeitos indiretos também causam grandes prejuízos sociais às pessoas. Conheço gente que deixou de sair à noite. Outros desenvolveram verdadeiras neuroses na hora de acionar o portão da garagem ou girar a chave do carro. “Encontros” pela internet ganham força, comprometendo o contato humano e a troca de ideias “olho no olho”.
Não sei aonde vamos parar. A banalização da violência atingiu níveis jamais imaginados. Vigilância particular, alarmes, armas não letais, câmeras por toda parte, privacidade zero. É apenas o começo.
P.S. Na quarta-feira da semana passada, Porto Alegre foi atingida por uma enxurrada poucas vezes vista. No meu local de trabalho, de onde envio esta coluna semanalmente, fiquei sem luz, computador, elevador e acesso ao prédio. Ou seja, sequer consegui entrar no edifício, o que inviabilizou o envio do material. Por isso – e só por isso – a competência da Rejane e da Viandara preencheram com talento este espaço normalmente destinado a estas mal traçadas linhas.