No universo dos negócios são poucos os empreendedores (empresários) que conseguem determinar o lucro ou a margem que seu empreendimento necessita para chegar aos estágios de crescimento e desenvolvimento. Parte significativa deles não consegue essa “equação ideal” durante sua primeira década. Nesse período o que mais se observa é intensa doação, insistência e fé do “eu empreendedor” na efetiva realização de seu projeto, muitas vezes um “projeto de vida” que, dentro do âmbito profissional/empresarial, pode ser comparado a sonhos, a ideais. Tudo isso sem entrar no mérito de que na “aldeia global” da oferta e da demanda as oportunidades e as ameaças ditam regras que, por sua vez, determinam a viabilidade deste ou daquele negócio.
O contador Luiz Inácio Petry, que atua há mais de 30 anos nas áreas de finanças (capital de giro, investimentos, financiamentos, …) e de controladoria (planejamento, orçamento, receitas, custos, resultados, …), tanto como professor do Centro Universitário Univates em curso de graduação e de pós-graduação, quanto como consultor de empresas na MCL Consultoria em Gestão Empresarial, onde é sócio-gerente, aborda aspectos básicos de quatro dos oito grupos do Sistema da Resultabilidade (lucro, margem, lucratividade, rentabilidade, retorno, …), segundo Antônio Lopes de Sá, um dos mais destacados profissionais dessa área, são aspectos que devem ser considerados no cálculo, na análise, na interpretação do lucro necessário de um negócio.
Inicialmente o professor aborda a curiosidade pela expressão lucro necessário quando o costumeiro é encontrar as expressões lucro ideal ou lucro desejado. Segundo Petry, se fosse questionado a um empreendedor qual o lucro ideal ou desejado de seu empreendimento é altamente provável que a resposta seria “o maior possível” e/ou “o que paga todas as minhas contas e ainda deixa um volume razoável para crescer e usufruir”. Portanto, não se está diante de uma resposta quantitativa, ou seja, o valor a ser alcançado para atingir os objetivos propostos; o lucro “necessário”, por sua vez, é determinado por cálculos que demonstram, com racionalidade, o montante necessário. O professor destaca que isso não deve ser confundido com “margem” ou com “lucratividade”, assuntos que poderão ser abordados em outra oportunidade.
Voltando aos aspectos introdutórios da busca do lucro necessário, os aspectos básicos de quatro grupos do Sistema de Resultabilidade:
A Quantidade do Lucro: examina o volume monetário do lucro, somente isso. Como exemplo cita a questão da atratividade onde R$ 50.000 de lucro possa ser visto como algo extraordinário para muitos, mas para outros tantos pode ser uma fracasso; por que isso ocorre? Porque depende de quanto ele representa em relação ao que foi investido.
A Qualidade do Lucro: promove uma interpretação racional do volume monetário do lucro (aspecto quantitativo), pois examina quanto retornou de lucro em relação ao que foi aplicado dentro do sistema (compras, estocagem, produção, comercialização, …) e fora do sistema (sustentação global da organização). Em outros termos, em quanto os esforços diretos e indiretos foram remunerados. Dessa forma, em resumo, o lucro necessário é aquele que possui um volume tal que seja capaz de remunerar adequadamente todos os investimentos efetuados, quer suportados por recursos próprios, quer suportado por recursos de terceiros, e remunerar adequadamente o capital investido e o risco suportado pelos proprietários.
A Temporalidade do Lucro: o lucro tem seu tempo, seu ciclo de formação, que pode variar de produto para produto, de negócio para negócio; portanto, dentro de um mesmo empreendimento, o lucro de produtos que são comercializados em segmentos mercadológicos distintos deve ser avaliado em sua qualidade levando esse aspecto em consideração. Simplesmente pelo volume não há como saber a qualidade do lucro de cada um deles. No ambiente externo, o professor cita também o seguido caso de comparação de lucros entre empresas que “parecem” ser do mesmo setor, como, por exemplo, entre as duas maiores cooperativas agroindustriais da região: “a Cosuel e a Languiru; é pouco provável que se obtenha avaliações conclusivas sobre quem teve o melhor lucro, pois a Cosuel possui a linha de produtos leite em pó que a Languiru não possui e a Languiru possui a linha de produtos aves que a Cosual não possui”, explica.
Outro exemplo citado por Petry foi a improdutiva avaliação da quantidade e da qualidade de lucro entre segmentos mercadológicos muito distintos, como, por exemplo, entre indústrias alimentícias e indústrias metais-mecânicas. Nas primeiras o retorno normalmente é baixo, mas seu risco e seu investimento também o tendem a ser; nas segundas pode ocorrer exatamente o contrário: um retorno normalmente alto, mas resultado de alto investimento e ambiente de alto risco.
A Espacialidade do Lucro: talvez não se consiga eficácia nos três aspectos anteriormente citados sem atender com muita atenção a esse aspecto do lucro; como o total do lucro de determinado empreendimento pode a ser somente o resultado de n acertos e de n erros, em uma indústria, por exemplo, os resultados devem ser apurados em cada um de seus produtos. “Quando isso não for possível ou não contribuir com o processo decisório, poderá ser por linha de produtos, mas abrangendo também cada cliente e cada mercado. Somente dessa forma será possível determinar qual a qualidade do resultado de todo o empreendimento”, observa.
Como última mensagem do tema proposto, o contador, professor e consultor de empresas deixa uma mensagem que, segundo ele, é muito conhecida, mas também muito esquecida pelos empreendedores e seu grupo de colaboradores: Um “olho” no constante dilema risco versus retorno: quanto maior este, maior aquele. Outro “olho” no constante dilema lucratividade versus liquidez: quanto maior esta, menor aquela.