Filho rebelde que sou – apesar da idade – vou falar rapidamente de política, embora esteja sendo reincidente porque na semana passada falei do que poderia ser um filme cujo título seria Color, O retorno. Depois de apeado da Presidência da República, o hoje senador brada aos microfones de todo o país em defesa da moralidade. Logo ele… Peço desculpas antecipadas à dona Gerti, minha mãe, que sempre pede que não fale “neste tipo de assunto”.
O que me traz novamente à questão política envolve as alianças e coligações que causam pavor, confusão e susto aos eleitores que não conseguem compreender a “cruza de cavalo com cachorro”, como costumam dizer os conterrâneos gaúchos da Fronteira.
Entendo perfeitamente a necessidade que os partidos têm de buscar maiorias para a conquista do poder. Sou filho de um ex-vereador desta terra e trabalhei por anos a fio na área política. Por isso, compreendo a indignação de muitas pessoas diante de uniões consideradas estapafúrdias caso fossem cogitadas há poucos anos passados. Um ET, se pousasse na terra e tivesse passado numa biblioteca para consultar jornais antigos, teria um colapso.
Em comunidades menores, a resistência se mantém, apesar do esforço dos líderes partidários em unificar o discurso na busca de justificativas. Não vou entrar em casos específicos, mas a oscilação do tipo “vale tudo para vencer’ está provocando o fenômeno cada vez maior do afastamento de lideranças de diversos segmentos que poderiam enriquecer a política e determinar a depuração tão necessária.
Os escândalos parecem tão normais que nos anestesiaram. Nossa capacidade de indignação é colocada à prova a cada edição das revistas semanais de circulação nacional. Nenhum partido está imune e até aqueles que outrora se autodenominavam arautos da ética, da moralidade e da transparência estão na berlinda. Seus principais nomes tentam, com todos os recursos oferecidos pela legislação, minar o julgamento do Mensalão, por exemplo, para fazer com que os crimes perpetrados contra o contribuinte sejam prescritos.
Se as uniões de agora são difíceis de entender, o eleitor deve se preparar para o segundo turno
É difícil olhar para alguma agremiação e encontrar coerência, decência e equilíbrio programático e de vida parlamentar. Aqueles que ainda não se lambuzaram com as benesses do poder pregam o radicalismo adolescente, defendem a pureza impossível com o atual sistema político e eleitoral e geram incredulidade junto ao eleitorado. Caso vençam uma eleição, como irão governar? E caso cederam ao canto da sereia da troca de favores vão incorrer nos mesmos erros dos partidos tradicionais.
Voltando aos pequenos municípios, ouço verdadeiras barbaridades de amigos e políticos com quem travei contato ao longo destes anos. Confesso que com alguns fico constrangido ao ouvir o tipo de união selada para o pleito de outubro. “Se eu não coligar, meus adversários vão coligar e aí perco a eleição!”, justificam candidamente.
Trocando em miúdos: às favas com ideologia ou princípios programáticos. O vale-tudo foi deflagrado e salve-se quem puder. Ao eleitor resta prescrever uma generosa dose de paciência e um estoque reforçado de chá de carqueja para preparar o estômago. Afinal, teremos ainda o segundo turno nas grandes cidades, o que aumenta sobremaneira a verdadeira fauna de animais exóticos produzidos pelas coligações.

