Estou em processo de mudança de residência. É uma das tantas decisões que a gente toma sem pensar com profundidade em todas as consequências. O raciocínio passa pela busca de um imóvel que caiba dentro do orçamento e que atenda à fórmula básica espaço-boa localização.
A infinidade de certidões, documentos, xerox, autenticações, negativas e cópias com firma reconhecida é infindável. Se o leitor pensa em trocar de casa não converse com alguém que fechou negócio há pouco tempo. Um breve relato é suficiente para espantar o mais otimista dos viventes!Sem falar das visitas de pessoas estranhas durante todo o final de semana para conhecer meu imóvel. Reconheço, porém, que neste período minha casa nunca esteve tão arrumada! Quem nos visitava achava que o apê estava sempre “um brinco”.
Hoje minha casa parece um depósito abandonado. Há tralhas espalhadas por todos os lados, além de objetos acomodadas em caixas de papelão que agora substituem as sacolas plásticas nas compras do supermercado. Para agravar o panorama, imagine tudo isso num apartamento que há dois meses está sem o trabalho rotineiro de uma diarista, termo politicamente correto para designar a tradicional empregada doméstica.
Quem adorou a situação foram nossos filhos. O clima de caos total, de bagunça digna de uma república estudantil ou de apartamento de solteiro é típico da “organização” que eles costumam usar em seus quartos. Agora eles têm argumentos de sobra para manter seus “cafofos” caoticamente desarrumados, com vários tênis espalhados pelo chão, portas dos armários escancaradas, copos sujos em profusão, bem como cadernos e livros organizadamente desarrumados sobre a cama.
Pretendo criar o museu da imagem e do som, com gravadores, fitas cassete, LPs e todo tipo de aparelhos obsoletos e fora de uso
Cheguei à conclusão que, pelo menos lá em casa, as mulheres adoram acumular coisas repetidas. A quantidade de bolsas que minha esposar colecionou ao longo dos 12 anos em que moramos no atual apartamento é um desafio à lógica! Malas e sacolas de viagem, além de pastas de eventos (cursos, palestras, seminários, colóquios, debates e congressos) lotam uma Kombi facilmente.
À exceção de alguns livros e uns poucos contracheques de antigos empregos guardo poucas coisas. Boa parte será doado ou inutilizado. As fitas cassetes e um velho gravador deverão integrar o acerto de uma espécie de museu da imagem e do som que pretendo fundar. Lá estarão também as dezenas de controles remotos sem uso, os inúmeros celulares antiquados (juntamente com seus carregadores), além de um rádio de pilha sem conserto, máquinas fotográficas ultrapassadas e uma infinidade de cabos de computador.
À espreita e no aguardo de um pequeno vacilo, minha mulher anseia incluir neste museu cerca de 80 discos LP – os antigos bolachões – e também os compactos simples, além de um toca-discos e um tape deck. Apesar da ojeriza da dona Cármen este arsenal sonoro é cobiçado sem pudor há décadas pelo meu amigo e jornalista Ari Teixeira, saudoso das velhas mídias.
Quando escrevo estas mal traçadas linhas, em plena terça-feira nublada com prenúncio de chuva, tenho menos de 20 dias para encaixotar tudo. Parece muito tempo, mas a indecisão e o apego aos objetos que guardam histórias, episódios emblemáticos e afetivos dificulta o que parece uma tarefa simples.
Enquanto as caixas não são transportadas para o novo apartamento tentamos sobreviver no caos familiar consentido. Pior será depois quando será necessário acomodar todos os objetos, roupas, eletrodomésticos e quinquilharias que por certo sobreviverão à seleção mais afetiva que objetiva daquilo que deve permanecer com a família Jasper.