Artigo escrito por Gabriela Freire. “Cuidar dos filhos dá trabalho. Quem afirmar o contrário está mentindo.Cuidar dos filhos é uma tarefa ímpar, mas tem gente que prefere delegar essa função a terceiros. O pediatra José Martins Filho fala sobre o fenômeno – sim, já é um fenômeno, que tem consequências inimagináveis, foi observado por anos em consultório e possui denominação própria: “Terceirização dos filhos”. Eu sou defensora de mães que cuidam dos próprios filhos. Longe de mim dizer que faço mágica e cuido do meu filho só. A verdade é que tenho a sorte de ter os avós de Ícaro por perto e sempre poder contar com a disponibilidade deles. O que significa que nunca contratei babá. Não é fácil ter que “pedir aos pais para sair” depois de ter virado “gente grande”. Mas é uma delícia saber que ele está sendo tão bem cuidado quanto estaria – ou até mais – do que se estivesse com você. Mas como disse, isso é sorte que tenho. A maioria das minhas amigas vive as dores e alegrias do convívio com a tão preciosa babá. Conforme o pediatra, hoje é comum receber bebês acompanhados apenas da empregada. Para ele alguns filhos são superativos, mal-educados, incapazes de lidar com frustrações e cheios de caprichos. Para outros, uma legião de pequenos emocionalmente desamparados que, mesmo longe das ruas, sofrem um abandono silencioso dentro de casa. Cabe aos pais evitar esse erro. O pediatra viu passar por seu consultório uma verdadeira revolução social nessas últimas décadas. Embora faça questão de acentuar seu apoio às conquistas femininas, ele tem saudades do tempo em que as crianças iam às consultas levadas pelas mães. E acrescente: Muitos pais ausentes são dominados pelos filhos de 2 ou 3 anos. Sentem uma culpa enorme pela ausência e, quando ficam junto da criança, tentam compensá-la dizendo sim a tudo. Também é frequente o que eu chamo de estilo “geleia com pimenta”. Os pais são permissivos e os pequenos começam a testar os limites. Como não há regras claras, eles extrapolam até o adulto perder o controle e mostrar seu lado pimenta. Aí, os pais explodem, gritam, ameaçam, partem para o castigo físico. Depois se arrependem e voltam à forma doce e mole. Essa gangorra emocional é sempre terrível e favorece a formação de adultos que se julgam onipotentes. Outro efeito negativo da terceirização diz respeito à colocação de limites. Avós, babás, professores, empregadas podem cuidar, mas eles não têm plena autoridade e, muitas vezes, seus valores não coincidem com os da família. Pais que amam impõem limites e ensinam a respeitar os outros desde cedo. É um tipo de abandono silencioso, que não sai nos jornais, mas acontece todos os dias.”