Os feitos gaúchos têm sido bem celebrados. Vinte de setembro é o ponto alto, mas o gauchismo é exaltado o ano inteiro. Em livros, em filmes, nos CTGs. Pouca gente não tem uma pilcha; a maioria toma chimarrão; muitos falam “tchê”. Aliás, esse nosso orgulho, o amor do passado, a imodéstia, etc. nos tornam alvo de piadas em todo o Brasil. (Não sei se é por que fica fácil tirar um sarro ou se haverá também um pouco de inveja, ou se as duas coisas vêm juntas, não sei.)
O fato é que a gauchada nem se importa. Continua cantando o hino rio-grandense até em primeira comunhão.
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Interessante observar que uma obra como “O tempo e o vento” de Érico Veríssimo não tem par no país. É uma espécie de epopeia. Colocando uma família no centro, conta os feitos heróicos do povo do sul. Coisa parecida faz o livro “A casa das sete mulheres”, que igualmente retrata a história de bravos e foi grande sucesso ao ser exibida na TV há alguns anos atrás. Em se tratando dos gaúchos, poucas vezes se fala de ignorância, de pobreza e de mau-caratismo. Os peões são valentes, leais e honestos e isto se pode ver já na famosa coletânea de contos de Simões Lopes Neto, os “Contos gauchescos”, publicados há quase um século.
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Por outro lado, os livros que contam histórias da colônia, onde se estabeleceram os pequenos agricultores de origem alemã ou italiana, são muito menos conhecidos. Em parte, talvez, por que esses colonos não tiveram muita disposição para nada que não fosse o trabalho. Roça, arado, cozinha e uma penca de filhos levados pra enxada tão cedo isso fosse possível não constitui fórmula de muito glamour. A monotonia da labuta incessante carace de charme.
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Pela escassez de relatos da vida da colônia ganha maior destaque o livro que a escritora lajeadense Laura Peixoto acaba de publicar. Trata-se de “Intrigas da colônia”. É uma coleção de contos ambientados no interior, entre descendentes de alemães. Laura retrata histórias comuns. Mostra as esquisitices de pessoas muito parecidas conosco. Compõe quase um espelho onde a gente pode se ver. E nem tenta esconder nossos podres. Faz um retrato sem dó nem piedade. Ou seja, vale a pena ler.