No dia em que a Brigada Militar anunciou um esquema reforçado de fiscalização contra o roubo de automóveis em Porto Alegre, nossa querida Capital, a bicicleta que eu comprara para meu filho, há menos de um mês, foi roubada, arrancada da corrente que a prendia na garagem do edifício. Eu sei, sou mais um entre milhares. Mas é isso mesmo que assusta, ser um dado estatístico, mais um banana que acreditou que a violência é controlável. Precisamos estar prevenidos, reforçar a segurança contra tudo que nos apavora, o extremo da violência que nos toma bens materiais, vidas e esperanças. Este é o país que ameaça soltar presidiários às vésperas do Natal, porque o sistema prisional está falido. Ao mesmo tempo, é o país que também não consegue prender a atenção das crianças na escola porque falta motivação, salários para bons mestres e programas de ensino à altura. Aliás, bons projetos conheço dezenas. Mas na hora de colocá-los em prática, a situação se torna um breu de assombrosa ineficácia.
Quero acreditar que os corruptos pagarão por seus crimes, que a bandidagem não vai metralhar a polícia no paredão, como vimos acontecer em São Paulo. A vida está enjaulada em sua falta de perspectiva. Alimenta-se do acaso, dos sonhos recheados de amargos pesadelos. Entramos neste quase feriadão com milhares de vítimas no trânsito, discursos em parlamentos vazios, onde a oposição e a situação atrapalham-se nas vielas da impunidade. Nós, os filhos de Macunaíma, bananas da República.
E eu que cheguei a imaginar que a bicicleta comprada para meu filho, duraria anos, mofaria depois no esquecimento ou seria doada à alguma instituição, sei lá. Mas não tive tempo sequer para pagar a última prestação e ela sumiu pedalada pela ausência de caráter, de educação e, pior, de castigo. O que eu devo fazer? A quem reclamar? Como agir para fazer deste lugar tão bonito, de cultura tão diversificada e de gente, em sua maioria tão gentil, também um lugar adequado para se viver em paz? Botar a boca no trombone é um começo.
A guerrilha criminosa ainda sobreviverá, aterrorizando e saqueando a cidadania por muitos e muitos anos. Verdadeiras cidades do crime que desprezam a lei ou qualquer conceito de civilidade e de família não se acaba assim, como um passe de mágica. Aliás, ilusionismos apenas mascararam durante anos a verdade e nos tornaram ainda mais distantes do verdadeiro ideal democrático.
Voltarei a uma loja, comprarei outra bike para meu filho. Circularei pelas ruas pedalando, a pé, ou em meu carro porque desistir não é o perfil do brasileiro íntegro, este que não tem pinta de semideus, do tipo que acerta e erra, como deveria ser praxe na vida cotidiana. Quer apenas ver as coisas a andar no rumo do bem comum.
Uma república se constrói assim, oferecendo educação, saúde e justiça social. Uma nação democrática de permite abrir janelas para o sol que entra sem a depressiva sombra das grades, metáforas de ferro a enjaular nossa autoestima. Por enquanto, me considero em uma república de bananas. Eu tu, ele, nós, vós, eles, autênticos bananas a assistir a dança da violência impune. Arre, que cansei de ser banana!