Vale do Taquari – A criação da Hidrovia Brasil-Uruguai serve de alento para os portos da região. Uma das principais estruturas do Estado, o Porto de Estrela sofre com o subaproveitamento do local, hoje restrito ao transporte de grãos e de areia. O tema foi debatido em reunião com a superintendência da Administração das Hidrovias do Sul (AHSUL), realizada na Univates, no dia 26.
No encontro, políticos e empresários da região conheceram a proposta da AHSUL para estimular o uso dos portos regionais. A autarquia contratou uma empresa responsável pelo Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) da nova rota hidroviária.
Responsável pelo estudo, o engenheiro da Ecoplan, Daniel Souto, confirmou aquilo que a região já sabia: os portos estão subaproveitados; a estrutura é deficiente; há uma administração portuária dividida; e equipamentos desatualizados.
Souto salienta que o estudo propõe mudanças no modelo de gestão hidroviária e portuária. Também propõe conhecer os tipos de embarcações possíveis nas hidrovias gaúchas e como melhorar a infraestrutura hidroviária. Todas elas necessitam de investimentos.
Para tanto, Souto se baseia na promessa do governo federal de investir R$ 217 milhões neste setor em 2013, pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 2). O superintendente da AHSUL, José Luiz Fay de Azambuja é categórico: “Dinheiro tem.”
O problema está em como reverter esse dinheiro para a região. O problema da navegação no Vale do Taquari passa, principalmente, pelo calado do rio Taquari. “Calado” é o termo usado para determinar o máximo de distância que um navio pode estar submerso. Na região, o calado é de 2,5 metros – com mais 50 centímetros de segurança. Apenas em Taquari é que muda para 3 metros.
Para Souto, outro complicador é na liberação dos empreendimentos, devido a burocracia. Cita como exemplo casos em que são quase dez anos de espera para que obras de construção de um vão móvel em pontes sejam liberadas pelos órgãos competentes.
Desvantagens
Vista por muitos como solução, Azambuja é mais cauteloso quanto à afirmativa. Informa que o sistema hidroviário de cargas é mais barato, mas também têm suas desvantagens. Uma delas é com relação aos calados sem uniformidade.
Essa diferença de profundidade atrapalha o carregamento de embarcações. Algumas não podem ser carregadas em sua totalidade, sob o risco de encalharem durante a navegação. Outro problema é que, ao contrário das rodovias, os rios não conseguem manter o nível inalterado. Em épocas de cheias ou de secas, o transporte hidroviário não é recomendável.
Azambuja, entretanto, ressalta que o porto de Estrela tem uma estrutura invejável, por contar com uma ferrovia que faz ligação direta com São Paulo. “Talvez nem todos os que estão aqui saibam disso”, alfineta.
Poucos investimentos
Em reportagem publicada pelo Alto Taquari em novembro, a Navegação Aliança afirmou a vontade de transformar o rio Taquari em uma rota para o escoamento de produção. Necessitava, apenas, da adesão de mais empresas, para tornar o frete algo mais barato.
Passados quase seis meses da publicação, pouco avançou. Entre os motivos, está a falta de investimentos. O diretor operacional da Navegação Aliança, Ático Scherer, informou que nos últimos 30 anos foram feitos pequenos investimentos nas hidrovias gaúchas.
“O nosso principal gargalo está em Rio Grande, onde só há dois terminais para fazer descarregamento.” Acrescenta, também, tempo de viagem. Se antes da supervalorização das rodovias o transporte demorava cerca de quatro dias para chegar até o principal porto do Estado, hoje a duração mínima é de oito dias.
Um dos pontos questionados é quanto ao calado. “Entre julho de 2012 e março deste ano, só conseguimos transportar duas vezes os navios com carga completa.”
Quanto ao uso do rio Taquari como rota alternativa, é pessimista: classifica como inconfiável. “Hoje, procuramos outros locais para carregar que não Estrela, porque o porto daqui não é confiável”, salienta, em referência ao pouco uso e ao maquinário considerado desatualizado.
Reivindicações empresariais
O encontro também serviu para que a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços do Vale do Taquari (CIC-VT) entregasse aos organizadores um material informativo sobre os potenciais econômicas da região. A entidade espera que sirva de subsídio para a elaboração do EVTEA.
O presidente da entidade, Oreno Ardêmio Heineck, reforçou que o complexo modal de Estrela é invejável. “Muitas regiões gostariam de ter o que temos, porém está subaproveitado.” Heineck acredita que o estudo é um primeiro passo na tentativa de reestruturar a hidrovia do Mercosul, incluindo o complexo rodo-hidro-ferroviário, situado em solo estrelense.
O documento entregue compila informações da logística existente, do potencial de carga e principalmente dados econômicos setoriais, os quais buscam garantir a realização dos investimentos da Hidrovia Brasil-Uruguai com passagem pelo Vale.
Entre os pontos, estão: polo regional em suinocultura; referência no setor de doces no Estado e segundo no Brasil; produção abundante de aves, leite, calçados e móveis. Normélio Eckert, outro integrante do setor empresarial, solicitou que o plano seja encaminhado para outras regiões, como a Serra, para que elas também aproveitem o espaço para o escoamento da produção.