A semana começou com mais um escândalo divulgado com o tradicional estardalhaço pela Polícia Federal através de uma desastrada entrevista coletiva. Secretários, ex-secretários e autoridades dos mais diversos calibres são acusados de agilizar, mediante recebimento de propina e presentes de todo tipo, a liberação de licenças ambientais. O assunto é recorrente, mas muitos de nós, contribuímos para a proliferação deste tipo de “despachante” que age na sombra dos corredores oficiais.
Lamentavelmente ao longo da referida coletiva não se cogitou citar os nomes dos corruptores. Neste momento me vem à mente a teimosia do senador Pedro Simon que há décadas insiste para a instalação da CPI dos Corruptores, origem do maior volume de irregularidades cometidas no Brasil. Uma comissão do gênero certamente daria luz à obscura rotina de lobistas que cavam favores na máquina pública.
Diante dos desafios da burocracia oficial – seja para a obtenção da segunda via da carteira de identidade, ou para conseguir a vacina da gripe sem pagar ou para furar a fila (seja qual for) – sempre nos lembramos de um amigo ou conhecido que poderá agilizar as nossas demandas.
Hipocritamente costuma-se encobrir este comportamento sob a pecha de “jeitinho brasileiro”. Graças a esta molecagem travestida de ingenuidade descumprimos prazos. E achamos uma barbaridade que o prazo de entrega da declaração do imposto de renda, por exemplo, não seja prorrogada. Esta, aliás, deve ser a única data respeitada com rigor em nosso país. O comum é exigir protelações e fomentar repetido desrespeito às leis, além da busca incessante de maneiras de driblar as convenções estabelecidas.
A justificativa para este comportamento inclui, ainda, a formação do povo brasileiro com base no temperamento dos povos que colonizaram a terra do Pau Brasil. Terceirizar os erros é um dos tantos estimulantes para o atropelo das normas. Somos pródigos em apontar culpados, crucificar agentes públicos – principalmente os políticos – como responsáveis por todos os vícios do mundo.
Esquece-se que raramente nós exercemos a nossa cidadania através da denúncia de irregularidades flagradas do cotidiano. “Falcatrua é um negócio para o qual não fomos convidados”, diz um ditado velhaco, mas condizente com a realidade. Nada justifica o pagamento de propina para acelerar processos de licenças ambientais, mas precisa-se fazer dever de casa. Isso começa ao mostrar para os filhos que entrar na fila não é postura de trouxa (ou babaca). Isso é exemplo de cidadania, ética, disciplina e respeito às leis.

