Estado – O Ministério Público Estadual prendeu oito pessoas – entre funcionários e empresários do ramo lácteo – na manhã de quarta-feira. Os agentes cumpriam nove mandados de prisão e 13 de busca e apreensão, obtidos pela Operação Leite Compen$ado. A ação desarticulou um esquema que adulterava leites de quatro indústrias.
Conforme a Agência Brasil, cinco empresas de transporte da matéria-prima adicionavam ao produto cru, entregue à indústria, uma substância semelhante à ureia, que tem formol na composição. A ureia é considerada cancerígena pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo o MP-RS, esse tipo de adulteração é considerado crime hediondo de corrupção de produtos alimentícios, previsto no Artigo 272 do Código Penal. Cerca de 100 pessoas participaram da operação, que conta com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Receita Estadual e da Polícia Militar gaúcha.
A investigação aponta que as empresas transportaram aproximadamente 100 milhões de litros de leite entre abril de 2012 e maio de 2013. O órgão estima que, desse total, um milhão de quilos de ureia contendo formol tenham sido adicionados, com o objetivo de aumentar o volume do leite transportado e consequentemente o lucro sobre o preço do leite cru.
A fraude foi comprovada por meio de análises químicas do leite cru. O formol foi encontrado no produto final mesmo depois dos processos de pasteurização. Amostras coletadas no decorrer da investigação em supermercados da capital gaúcha apontaram fraude em 14 lotes de leite. O leite alterado era comercializado no Rio Grande do Sul e em outros estados.
Com o aumento do volume do leite transportado, os “leiteiros” lucravam 10% a mais que os 7% já pagos sobre o preço do leite cru, em média R$ 0,95 por litro.
Interdição
Na manhã de quarta-feira, houve a primeira interdição. A Latvida foi proibida de comercializar qualquer tipo de produto. Os fiscais da Inspetoria Veterinária estiveram na sede da empresa, em Estrela, para fazer a autuação.
A interdição da Latvida, conforme o MP, ocorreu devido ao descumprimento de decisão judicial que determinou a não comercialização, por parte da empresa, dos leites UHT a partir de 1º de abril deste ano. De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foram detectadas irregularidades em leites das marcas Bom Gosto, Italac, Latvida e Mumu.
Empresas se defendem
Por meio de nota, a Vonpar, que produz o leite Mumu, salienta que a fraude ocorre nas transportadoras, que “a empresa atende a todos os requisitos e protocolos de testes de matéria-prima exigidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento” e se coloca à disposição do MP e do Ministério, divulgou o portal G1.
Também por meio de nota, o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Estado do Rio Grande do Sul (Sindlat)condenou a adulteração e relata que acompanha a investigação desde o início. “Todos os lotes identificados com problema foram retirados do mercado e não se encontram mais à disposição do consumidor. Os estoques disponíveis no varejo estão aptos para o consumo humano”, afirma a nota.
O texto também ressalta que as indústrias foram prejudicadas pela adulteração, isentando-se de qualquer culpa. “A indústria reafirma seu empenho na obtenção e distribuição de leite e derivados de alta qualidade e de consumo seguro, com a realização de análise do produto recebido dos produtores, importantes parceiros no elo da cadeia produtiva”, conclui o texto.
Após a ordenha, as cinco empresas investigadas adicionavam ureia no produto, com o objetivo de aumentar o volume e, por consequência, lucrar mais;
• Segundo o MP, com a fraude, os investigados lucravam 10% a mais do valor pago pelo produto cru (cerca de 95 centavos por litro);
• Os fraudadores adicionavam água de poço com ureia, produto cancerígeno, conforme a OMS;
• O produto era encaminhado para as indústrias. Estima-se que 100 milhões de litros foram “batizados”;
• A fraude durou, pelo menos, um ano.