O jornal Correio do Povo durante esta semana publicou uma série de reportagens sobre a guerra diária nas estradas do Rio Grande do Sul. Os números do trânsito que mata são alarmantes.
De acordo com a jornalista Mauren Xavier, nos primeiros quatro meses do ano, 619 pessoas perderam a vida na carnificina das estradas. Seiscentas e dezenove vidas, 619 sonhos, 619 famílias, 619 tragédias, relata a profissional. Aqui na região também tivemos dezenas de óbitos.
Esse dado representa a média de 154 mortes por mês, ou cinco por dia. É um óbito a cada pouco mais de quatro horas. E são diversas, as marcas deixadas pelo trânsito, como a banalização das mortes, o custo aos cofres públicos e o drama de quem tem de viver com a perda de um familiar ou as mudanças com as sequelas, conforme o jornalista.
Para ela a situação mais alarmante e preocupante é que, nesta semana, na véspera de completar quatro meses da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, em que 242 pessoas perderam a vida, o trânsito já ceifou praticamente o mesmo número de jovens.
As vítimas fatais com idades entre 18 e 34 anos — mesma faixa etária dos frequentadores da Kiss — somam 237. A grande diferença é que as mortes do trânsito ocorrem a “conta-gotas” e, diante de tantos números e estatísticas, crescem assustadoramente e sem parecer ter fim, a comoção praticamente não existe ou é sufocada pelos sucessivos acidentes e mortes.
Também relata a jornalista: “Para se ter uma dimensão do problema, em um único final de semana, o do Dia das Mães, 35 pessoas perderam a vida. As famílias das vítimas fatais ou aquelas que ficaram com sequelas tentam reconstruir suas vidas diante das novas perspectivas transformadas completamente pelos acidentes.
O coordenador do Comitê Estadual de Mobilização pela Segurança no Trânsito, vice-governador Beto Grill, reconhece a banalização da população em geral com o assunto. “É preciso incorporar à vida das pessoas os riscos reais provocados pelo trânsito. Elas acham que nunca vão sofrer um acidente”, avalia.
Para mudar essa realidade dramática, ele defende a união de esforços de todas as esferas — públicas e privadas. “Uma ação isolada não surtirá efeitos. É preciso atuar em várias frentes, desde o rigor na fiscalização como as ações de conscientização. Uma campanha isolada não resolverá o problema”, afirma Grill.
O diretor-presidente do Detran/RS, Leonardo Kauer, acredita que há um risco muito grande quando as mortes são vistas simplesmente como dados estatísticos, sem o contexto familiar e social da vítima. “São planos interrompidos.” Para enfrentar essa situação, cita ações como as operações Balada e Viagem Segura e cobra o apoio do cidadão. “Precisamos compartilhar as responsabilidades.” E nós continuamos aqui, pasmos a cada dia, diante de uma guerra que parece não ter fim.

