Vale do Taquari – A economia, que oscila no mundo, afeta os Estados Unidos, China e amplamente comentada nos noticiários, incide diretamente em comerciantes e consumidores da região. Alta do dólar, aumento dos juros, contenção da inflação são alguns dos fatores que influenciam e muito na vida de todos. Para enfrentar esta maré é preciso otimismo e, sobretudo, informação.
Os consumidores obtiveram grandes vantagens desde que a economia mundial entrou em crise, em 2008. Naquele período, houve valorização do Real. De lá para cá foi possível adquirir carros, eletrodomésticos e outros bens de consumo. Mas de forma geral, dívidas foram assumidas, e agora vieram as dificuldades para saldá-las. Segundo a economista Cíntia Agostini, em âmbito nacional, há setores que já se estabilizaram e na região não será diferente. “A construção civil é um bom exemplo”, cita.
Em termos de agropecuária, as empresas que importam insumos estão tendo mais despesas, em função da valorização da moeda brasileira. Os produtores, por exemplo, quando compram a ração, estão pagando mais, pois consomem insumos, matérias-primas, embalagens, ou seja, na cadeia há diversos itens importados.
“Em nossos municípios, com as desonerações, reduções de impostos que o governo proporcionou durante esse período de crise, receberam menos na divisão do fundo de participação, e isso faz com que consigam dar ‘menos dinâmica’ para as Administrações Municipais”, relata. A economista coloca também, a necessidade de pensar a agropecuária com a perspectiva de boas safras. No entanto, é preciso contar com o que o clima proporcionará nos próximos dias, já que este fator poderá influenciar os preços dos alimentos.
A curto prazo, Cíntia alerta para o aumento do preço dos combustíveis. A região possui índices de emprego bons, e é notável a dificuldade das empresas em conseguir mão de obra. “Mas melhores resultados todos terão se os empresários confiarem que a economia irá bem, que os governos farão seu “tema de casa”. Aí sim estes farão investimentos para o crescimento da região.”
Empresas buscam lidar com turbulência econômica
A alta do dólar, segundo o analista de comércio exterior da Bremil Cassiano Krindges, provoca aumento do custo das mercadorias importadas. Para os produtos que a organização busca no exterior, na maioria dos casos, não há similares nacionais, o que torna obrigatória a importação, indiferente da taxa em que o dólar esteja. Assim, sem opções no mercado nacional, a alta do dólar afeta diretamente o custo dos produtos.
“A Bremil prioriza empresas brasileiras, optando por elas sempre que a qualidade dos produtos seja equivalente aos importados e a diferença de preço não inviabilize a operação. Como em sua maioria, os produtos importados não possuem alternativa nacional, a alta do dólar não alterou o preço”, explica Krindges.
Como forma de proteção cambial, a Bremil utiliza as receitas decorrentes de exportações para pagar as importações, gerando assim uma proteção natural (hedge). Com a elevação do dólar, o volume de exportações tem expandido e tornaram-se mais rentáveis devido a grande parte do custo de produção – estrutura, mão de obra, insumos – ser pago em moeda corrente nacional. “Desse modo, o aumento na taxa do dólar torna os produtos da empresa mais competitivos, frente à concorrência internacional”, expôs.
Segundo Cíntia, os ministros, o presidente do Banco Central e a presidente Dilma Rousseff nunca podem dizer de que algo vai mal, ou não vai dar certo, ou ser pessimista. “O mercado sempre irá fazer leitura do que eles estiverem dizendo. Dessa forma nunca podem dizer que as coisas vão mal pois assustaria a todos”, disse. É a regra para quem está comandando a economia. A informação positiva chegou há duas semanas. O crescimento do PIB, que no primeiro trimestre havia sido 0,6%, no segundo trimestre foi de 1,5%. “Os principais setores que cresceram foram o agronegócio (3,9%) e a indústria (2,0%). A indústria de transformação foi a que demonstrou investimentos mais sólidos nas cadeias produtivas, em máquinas e equipamentos.
A crise teve um início definido? Quanto tempo ela dura?
Desde 2008 a economia mundial está em crise. Trabalhamos com uma perspectiva de que leve até uma década para se dissipar. Os países desenvolvidos começam a dar sinais de estabilizar suas contas, ou seja, já começamos a ter resultados zero e um pouco de crescimento, ante os resultados negativos que os países estavam tendo até agora. No entanto, em alguns, as taxas de desemprego são altas e continuam as políticas de cortes de gastos e investimentos.
Essa tendência já foi amenizada?
Ainda a política predominante é de gastar menos, e quando gastam pouco, geram menos investimentos, menos contratações, menos pessoas empregadas, menos renda destas pessoas, e isso gera menos consumo. Acaba ficando em um círculo vicioso. Alguns países estão começando a inverter essa percepção e começam a incentivar suas economias, para voltar a ter crescimento. É fundamental analisarmos o cenário mundial, pois ele influencia diretamente as economias, já que estão todas interligadas. São os efeitos da globalização.
Qual é ou quais são os países que mais influenciam o Brasil em tempos de crise?
Nosso maior parceiro comercial é a China e o segundo é os Estados Unidos (EUA). Se a China cresce menos e os EUA ainda não se recuperaram, isso influencia nossa economia. Em épocas de crise a tendência é de que todos os países se protejam. Dessa forma, eles deixam de importar mão de obra e matérias-primas, dando prioridade às pessoas e produtos nacionais. De uma forma geral, a perspectiva da economia mundial melhorou, a economia americana é a que mais influencia nesse aspecto, pois são grandes consumidoras mundiais, e esta voltou a crescer.
Então, se os EUA crescerem, o mundo cresce junto?
Este é um aspecto importante. A economia americana dizendo que está se recuperando, informa ao mundo que poderá retirar os benefícios e subsídios e taxas de juros menores, que estava proporcionando às empresas. Isso faz com que os investidores financeiros retirem seus investimentos das outras economias no mundo e enviem para os EUA. Pois o efeito é o inverso, se pensarmos no sistema somente financeiro e no sistema produtivo. Para as empresas interessam juros baixos para buscar dinheiro mais barato emprestado e para aqueles que “vivem” dos rendimentos, um juro alto é mais interessante, pois seus rendimentos valorizam.
Como funciona o câmbio em relação às empresas?
Imaginemos que uma empresa fez dívidas em dólar, quando o dólar estava 1,90 (isso ainda em 2012) e agora o dólar a 2,4, chegando a 2,45. A dívida aumentou quase 30% por causa da alteração cambial. Se pensarmos nas empresas que exportam, parece interessante num primeiro momento, mas mesmo essas, importam matérias-primas, importam máquinas. Assim, na importação o câmbio não está interessante e acaba ficando elas por elas. O governo federal tem feito intervenções com as reservas cambiais, para não valorizar tanto nossa moeda, mas isso tem um limite, de recursos disponíveis e de tempo. De forma geral, alguns analistas nos assustam com essa questão do dólar.
Então, dá para ter uma ideia de como o dólar vai se comportar?
Imagina-se que ele vai aumentar ainda um pouco, no entanto, outros economistas dizem que temos reservas suficientes para cobrir isso e que a economia brasileira está sólida suficiente para dar conta dessa volatilidade. Depende do lado que estou, espero e trabalho para ter resultados.
O dólar no primeiro trimestre de 2013 – média 2,02, no segundo trimestre R$ 2,22 e agora no terceiro trimestre R$ 2,3. Antes era preciso R$ 2,02 para comprar 1 dólar e agora, de R$ 2,30 para comprar o mesmo dólar, um aumento de 13,86%. Do outro lado, quem compra do Brasil, com 1 dólar era possível comprar apenas 2,02 reais e agora, com o mesmo dólar, R$ 2,30. Essa é a leitura da variação. Funciona na lógica da oferta e demanda!
E sobre a inflação?
Inflação, em linhas gerais, é o aumento dos preços. Quando a crise de 2008 se instalou, o governo decidiu estimular a economia interna e manter o país distante da crise. Para isso utilizou o mercado interno (IPI reduzido para carros, para eletrodomésticos, crédito para consumo, isenção de taxas, desonerações, entre outros artifícios) tudo para estimular as pessoas a comprarem mais. Estas manobras funcionaram por um tempo. Mas tem limites, e por vários motivos. O governo não tem como ficar estimulando sempre só o consumo, pois as pessoas querem comprar mais, ou seja, demandam mais, mas se a oferta de produtos não condiz com esse aumento de demanda, a tendência é que os preços aumentem, ou seja, inflação; o crescimento sólido de uma economia deve se dar pelos investimentos, pois são esses que dão dinâmica da produção, da geração de emprego e renda, hoje, os investimentos são 18% do PIB; o mundo continua em crise e isso nos afeta mais cedo ou mais tarde; os empresários passaram muito tempo receosos com o que ia acontecer com a economia brasileira e a mundial, e isso faz com que eles não ampliem seus negócios, não invistam mais. Ou seja, não há crescimento, não há mais emprego, não há mais produção. Agora, neste último mês os índices de confiança do setor privado melhoraram e esse é um bom sinal.
Quais são as perspectivas para os próximos anos?
O PIB este ano ficará por volta de 2,3%. As taxas de juros básica da economia, a taxa Selic, de até 10% no final do ano. A inflação chegará aos 6% e a taxa de desemprego, 6,5%. Isso tudo considerando as condições atuais. No entanto, tudo depende de como as economias dos EUA, China e Europa irão se comportar; possíveis conflitos internacionais, que podem nos influenciar também, talvez não tão direto, mas sempre influencia.
Por parte do governo, qual seria a conduta que chamaríamos de adequada?
Será fundamental a forma de condução das relações internas. Como o governo Dilma está dando conta dos gastos, dos investimentos e como está sua relação com o Congresso; se haverá um estímulo ao crédito, o que não parece mais ser objetivo do governo; se irá continuar essa tendência de alta nos juros, para conter a inflação e atender às “pressões” do sistema financeiro, o que parece ser o mais provável; como irá dar conta de manter o câmbio flutuante, mas não deixar escapar ao controle por movimentos especulativos; como irá demonstrar aos empresários que é seguro investir no Brasil, que estamos com nossa economia sólida e estável para poderem fazer seus investimentos.