A proximidade do Natal lembra meus tempos de piá. A programação que antecedia “noite feliz” era intensa. Começava com busca da árvore (pinheiro) encomendada mais de um mês antes, devidamente etiquetado com o nome do comprador.
Depois de cortado com uma serra manual o desafio era ornamentar o pinheirinho com bolas coloridas, figuras do Papai Noel de vários modelos, estrelas multicoloridas, diversos anjos e a tradicional barba de pau, erva colhida em árvores próximas de casa.
O presépio – com todos os personagens e a respectiva ambientação do nascimento de Menino Jesus – era um cenário indispensável. Todas as peças daquele verdadeiro quebra-cabeça eram guardadas numa caixa, guardada em lugar inacessível para a gurizada.
O dia da montagem do presépio era cercado de muita excitação e geralmente ocorria no final do dia. Não havia alterações de um ano para outro, mas eu e minha irmã ajudávamos a dona Gerti – minha mãe – sem reclamar, o que não era comum.
Entre tantos adereços usados para montar o lugar da chegada do filho de Nazaré lembro de uma travessa de vidro que ficava escondida por plantas e serragem. O objetivo era ambientar um lago que acolhia cisnes brancos que nadavam nas águas transparentes.
Antes de abrir os presentes fazíamos um recital familiar que incluía até músicas em alemão
Na noite de Natal íamos à igreja cantar no coral da Escola Evangélica Luterana São Paulo, onde eu e a minha irmã estudávamos. A inesquecível professora, a “Dona” Dorothéa Suhre, mantinha a muito custo a gurizada com os colarinhos e bocas fechadas. A excitação era muito grande!
Depois de duas horas de culto e cantorias, finalmente recebíamos uma recordação do Bom Velhinho – geralmente bombons ou chocolates. Ao chegar em casa, ao invés de avançar nos presentes, fazíamos uma recital familiar. O repertório era composto de músicas natalinas. Algumas, inclusive, em alemão, como O Tanenbaum, além de Noite Feliz. O show era feito em dupla: minha irmã tocava violão e eu atacava como gaiteiro.
Somente aí chegava o tão esperado momento de identificar e abrir os pacotes. Confesso que eu tinha o condenável hábito de apalpar os presentes antes de rasgar o embrulho. Se fosse uma embalagem “mole” deixava de lado porque na certa se tratava de roupa, lembrança que não agradava a gurizada da época. Bolas de futebol e outros brinquedos eram sempre bem-vindos.
Sem televisão, computador ou sequer o direito de reclamar, a gente se divertia como dava, até a hora em que minha mãe chamava para jantar. Como vocês podem ver… a noite feliz era bastante diferente na década de 60/70…