Uma amiga perguntou se ainda era possível sentar fora nas noites de verão, botar as cadeiras na calçada e papear com a vizinhança, como se fazia antigamente.
Acho difícil.
Não só por que o medo de assalto aumentou muito. Também, por que estamos mais ocupados do que nunca. Falta tempo para ficar só de conversa. Todo mundo anda atucanado.
A gente passa chispando pela semana. Quase não vê o sol, mal e mal se importa com a chuva. Falta tempo para preparar as refeições e também para comer com calma. Falta tempo para brincar com as crianças e também para ler um livro grosso. Falta tempo dentro de nós. Serenidade faz falta, muita falta.
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Na contramão da agitação, encontrei um livro sobre “taoísmo”. Intitula-se “Tao Te Ching. Foi escrito uns 500 anos antes de Cristo e continua sendo um best-seller.
O que mais chama a atenção no “Tao Te Ching” é a orientação no sentido de produzir calma no interior das pessoas.
O caminho – segundo esta filosofia – é conhecer melhor a si mesmo e fugir dos modelos prontos. Principalmente, é preciso fugir do dualismo que separa o sim e o não, o bom e o ruim, o belo e o feio, etc.
Olhar para as coisas como opostas cria desejos para um lado e aversão para o outro. O resultado é ansiedade e agitação.
O taoísmo ensina a pensar que os polos diferentes existem sem competirem. O bom e o ruim se entrelaçam, um está emendado no outro. Se não podemos aceitar uma face, também não podemos ter a outra.
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Resumo da ópera: há outras maneiras de encarar a vida, além desta em que estamos embretados. A seguir uma amostra de dizeres encontrados no tal “Tao Te Ching”:
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” O barro é moldado para ser um vaso.
A utilidade do vaso vem do fato de ele estar vazio.
Abrem-se portas e janelas para fazer uma sala.
É por causa do espaço vazio que uma sala é útil.
O que está presente é usado para o lucro.
Mas é a ausência que produz a utilidade.”
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Os rios e os mares dominam os vales,
Porque eles se situam abaixo.
Se queres liderar pessoas,
Coloca-te depois delas.