“O sonho de todo gaúcho era ter nascido cavalo ou avião da Varig”.
Perdi a conta do número de vezes que ouvi essa frase Brasil afora, sempre dita num tom entre o gozativo e o invejoso.
Ela me parece assumir, nos dias atuais, o seu lado de verdade indiscutível e comprovada, pois ao mexer com o simbolismo, nada mais faz do que expressar fatos ou crenças de um povo, no caso, o respeito e admiração do gaúcho por seus companheiros de “caminhada”.
Desconheço gaúcho que não goste do cavalo, parte integrante do próprio corpo do guerreiro, desbravador e valente, que já foi conceituado como “Centauro dos Pampas”.
E o que foi e é, até hoje a nossa Varig? Um cavalo alado, moderno, heróico e persistente, a lutar quem sabe contra más administrações, quem sabe contra mal-elaborados ou executados projetos de administração e marketing, quem sabe mesmo pela inconstância do sistema político e financeiro de um país, cujo “Céu de Brigadeiro” jamais existiu.
Quando tomo conhecimento de que o preço da Varig, hoje, é menos de US$ 500 milhões – pouco mais 1 bilhão de reais e, mesmo assim, a dificuldade em achar comprador foi enorme, graças ao passivo acumulado – chego a me comover, pelo baixo valor, equivalente ao custo de uma dezena de aviões não muito grandes.
Rubem Berta diria: “Me entreguem a Varig como está e eu a tornarei lucrativa em menos de um ano”!
Estou exagerando?
Eu também acho. Tenho certeza de que, em menos de seis meses na mão daquele porto-alegrense “visionário” (que tem ideias extravagantes, “irrealizáveis”) a Varig voltaria a decolar.
Não como hoje, quando se arrasta ferida e triste, nuvem após nuvem, em uma valsa quase de despedida.
Eu a sonho como ópera grandiosa e vibrante, vôo triunfal e majestoso, desfilando sua impressionante história e conquistando espaço para mais e mais decolagens, em vôos sempre mais seguros.
Uma epopéia como a da Varig, não merece terminar em “pianíssimo”, um estágio tímido e quase hesitante de uma música, com pouca intensidade de som.
Na Varig, exemplo de sinfonia grandiosa, comovedora e brilhante, é descabido até mesmo um “gran finale”.
Quem já viajou com ela e conheceu outras grandes companhias aéreas internacionais, sabe que a Varig precisa apenas encontrar um maestro, capaz de afinar instrumentos e músicos – equipamentos, aeronaves e as equipes de apoio – para continuar com seus espetáculos diários de atendimento, segurança e respeito aos direitos dos passageiros, sempre com a mesma naturalidade e competência com que as grandes orquestras fascinam os mais exigentes críticos.
Longos vôos à Varig. É o que desejo, como um de seus milhões de admiradores.
É bom lembrar que a Sinfonia Inacabada, de Franz Schubert, estará completando 200 anos antes que a Varig complete seu centenário de Fundação.
Quer estímulo mais sugestivo do que este?