Sou do tempo do Escândalo Adubo-Papel que estarreceu o Rio Grande do Sul na década de 70. Nada podia ser pior. Mas hoje, com décadas de experiência em “barbaridades cometidas com o dinheiro público”, ainda não me acostumei às notícias sobre a Petrobras. Tudo que diz respeito ao caso se constitui num festival de absurdos que faz de Al Capone um pivete de arrastão em Copacabana.
Como contribuinte quero saber o que fazem os responsáveis pela fiscalização das contas da maior estatal brasileira. Meu falecido pai era Contador. Fazia cálculos “de cabeça” com uma precisão espantosa. Em eleições municipais as projeções sempre batiam com os resultados finais. Por isso não entendo como os balanços da Petrobras “fechavam”, apesar do recente hábito em maquilar números déficits e dados nas estatais brasileiras.
Leigo em Direito, tenho sérias restrições à delação premiada. Considero ofensivo, como cumpridor das leis, que as autoridades necessitem perdoar – mesmo que parcialmente – ladrões do dinheiro público em troca de informações para agilizar prisões. Doloroso, também, é tomar conhecimento que um executivo de uma das empreiteiras “aceitou” devolver 100 milhões de dólares em troca sabe-se lá do que. Diante da disposição em abrir mão destes trocados, será possível calcular o tamanho do rombo?
A lista de barbaridades é inesgotável.
A rotina dos escândalos parece ter anestesiado a população. Milhões, bilhões… tudo parece indiferente diante da repetição
A presidente da Petrobras Graça (quer ironia este nome, heim?) Foster pagará R$ 19 milhões a dois escritórios de advocacia. O objetivo do milionário desembolso é investigar as denúncias de superfaturamento. Neste momento se impõe uma pergunta: onde está o conselho de administração/deliberativo e o Tribunal de Contas da União, cujos integrantes são mantidos com polpudos vencimentos para fiscalizar os balanços?
Milhões, bilhões… reais, dólares. Cifras e moedas que já perderam impacto diante da maçante repetição de escândalos brasileiros. A rotina dos escândalos parece ter anestesiado a população. Talvez se outros partidos estivessem na oposição teríamos marchas, protestos, quebra-quebra e uma invasão a Brasília contra o absurdo descaso com o dinheiro do contribuinte.
Nunca antes na história deste país uma empresa, antes orgulho verde-amarelo, tão rapidamente se transformou em vergonha de escala mundial. Afinal, soube-se que até empresas holandesas pagaram propina a funcionários da Petrobras em toca de facilidades. Diante de tudo isso tenho dificuldades para convencer meus filhos a permanecer no Brasil.