Nós, bons colegas de trabalho, bons maridos e, na medida do possível, amantes apaixonados, pagaremos sempre pelos maus exemplos. Sim, o lado bom da força masculina, luta contra os próprios preconceitos e se esforça. Não apenas abre a porta do carro para elas, mas escancara as possibilidades para que possam crescer como mulheres independentes e realizadas.
Nem queremos muito em troca. Um reconhecimento de vez em quando, o carinho ou um olhar agradecido, não por ser o macho libertador. É simplesmente um homem do tipo que reconhece suas próprias limitações e guarda em si, infinita disposição para aprender e melhorar.
O que ganhamos em troca? Satisfação pessoal seria suficiente. Especialmente quando você é um profissional que valoriza a atuação das colegas femininas. Aceita ser comandado por mulheres. Em casa, sabe dividir obrigações. É parceiro. Duro sem perder a ternura.
A humanidade, machista, porca chauvinista como diziam nos anos 70, escreve uma triste história de abusos e opressão, subjuga a mulher e dificulta as mais singelas possibilidades de realização. Em tantos lugares deste planeta, preconceitos de toda ordem, impõem humilhações escravizantes desproporcionais, como se o gênero feminino fosse sinônimo do pior.
Acredito que homens banhados em culpa decidiram apoiar o Dia Internacional da Mulher, forçados pelo culto ao politicamente correto. Muitos deles, cobertos por uma maquiagem pesada de cinismo. Anotem, neste domingo, se repetirá um derrame de flores, perfumes, elogios e discursos recheados de lugares comuns.
Quem ganha mesmo com isso é o comércio. E o comércio, liderado agora também por mulheres, passa a lucrar com a data. Aliás, esquecer datas é outra falha recorrente entre homens. Muitos ouvem queixas tipo: “Hoje é o Dia da Mulher e tu nem lembrou…” Uma conhecida irritou-se com o namorado que lhe presenteara com um kit de roupa íntima.
Mas não foi a postura de macho à moda antiga, a tratar a fêmea como objeto. O que frustrou a moça foi a singeleza do presente. Queria uma joia! “Eu mereço”, garantiu, enquanto o cara lhe apresentava lingerie de grife, que ela, mais tarde, descobriu não ser nada barata.
Ambos estavam errados, assim como centenas de maridos, namorados, chefes ou subordinados de mulheres a correr às lojas em uma espécie de celebração de um novo Dia dos Namorados Engajados ou Dia da Fêmea Trabalhadora. A luta da mulher por igualdade virou um produto a ser vendido. Muitas curtem a correria. No fundo acreditam ser outra conta a ser paga por séculos de submissão.
Então conclamo a todos machos sensíveis a trabalharem arduamente pela valorização da mulher. Igualdade agora! É a única maneira de interrompermos os ciclos de discursos iguais, citações bregas e pseudo-feministas a cada oito de março. Chega de botões de rosas murchas, chocolates derretidos. Vamos dar um basta ao desinteresse e o cinismo, que engessam a verdadeira mudança.
O fim do preconceito abriria nossos peitos varonis, nossas cabeças ocas de macho no caminho de eleger esta data como o “Dia Internacional da Queima Total das grandes grifes da moda feminina”. Que tal? Ótimo para elas, e para nós que, com ou sem data especial, precisamos manter aqueles corações femininos convencidos de que são o centro de nossa existência. O resto seria periférico. Mas convenhamos, um periférico pra lá de gostoso.