“Inspiração não é plágio”, repetem à exaustão os desprovidos de criatividade. Me perdoem, mas hoje busco estímulo na coluna da colunista, colega de jornal e amiga Ivete Kist, publicada em nosso O Alto Taquari da edição passada. Sob o título “Prazeres inúteis”, ela, com rara sensibilidade, destaca O Livro dos Prazeres Inúteis em que um dos capítulos ensina a prestar atenção em coisas que nos dão prazer e são de graça.
A cultura da acumulação e o vício da ostentação tiraram muito da graça de viver sem gastar dinheiro. Como exemplo, adoto o passeio pela cidade sem destino determinado como sugere a querida Ivete. Faço isso todas as vezes em que visito Arroio do Meio, depois do lauto almoço da dona Gerti. Os exageros à mesa, associados ao gosto de encontrar velhos amigos, rever antigos parceiros e trocar ideias com os leitores são experiências que não têm preço.
Ignorar a simplicidade complica o simples, embroma o fácil e transforma a vida num emaranhado exaustivo, pouco prazerosas, de rara criatividade. A ditadura da tecnologia deteriorou as relações interpessoais em nome do vai e vem de textos com míseros 140 caracteres. E impôs a obsessão das famigeradas selfies que geram milhares de imagens que não admiramos ou compartilhamos com familiares e amigos.
Coisas simples estão fora de moda. Mas é possível retomar atividades prazerosas
Jantares são submetidos ao silêncio imposto pelo jugo da novela. Falta espaço para o diálogo. Até as discussões familiares durante as refeições sumiram. A simplicidade é confundida com mediocridade numa confusão inconsciente gerada pela correria sem tréguas da rotina.
Gosto de ir à praça, me acomodar na grama e apenas observar. Ver a gurizada correndo atrás das pombas, os adultos mateando enquanto relatam episódios pitorescos do dia a dia ou simplesmente lembrar que ter saúde é uma dádiva incrível. A ânsia de atingir objetivos distantes impõe uma miopia que neutraliza a capacidade de valorizar o que temos, aquilo que conquistamos, as pessoas que cativamos, a vida sossegada que às vezes nos incomoda.
Assobiar em público é outro gesto singelo que Ivete Kist destaca em seu texto. Gostei do exemplo porque sou adepto desta prática. Uso o som estridente até para chamar meus filhos quando estão espalhados pela casa.
Ligar para um amigo apenas para perguntar como está, regar uma planta, alimentar um pássaro ou passear com uma criança são atividades que geram satisfação interna. Pena que estas coisas simples estejam fora de moda. Mas é sempre tempo de reativar estas agendas positivas.