Encontrei um livro interessante. Seu título: “O livro dos prazeres inúteis”. A obra contém 100 capítulos curtos, cada um focalizando um tema, ou seja, cada um falando de um dos tais prazeres inúteis.
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A palavra “inútil” não tem fama boa. Estamos acostumados a entender que “inútil” se refere àquilo que não serve para nada, que é desnecessário, imprestável. Às vezes, inútil é entendido como prejudicial. Chamar alguém de “inútil” pode ser uma baita ofensa. Dizer, por exemplo, que o poder público gastou em obras inúteis equivale a dizer que é incompetente, perdulário ou coisa ainda pior.
A palavra “prazer” é igualmente suspeita. Tradicionalmente se associa prazer e pecado. (Mas, segundo o filósofo Raoul Vaneigem, na sociedade moderna, “os prazeres são proibidos até se tornarem rentáveis”…) Seja como for, o título da obra é intrigante. Quais prazeres seriam inúteis?
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Os autores do livro, Tom Hodgkinson e Dan Kieran, começam informando que falam muito a sério. Dizem que o objetivo do livro é provar que as melhores coisas da vida não custam nada. Observam que nos dois últimos séculos o mundo ocidental foi levado a acreditar que a diversão é um negócio caro. Como consequência as pessoas trabalham fazendo coisas que não gostam a fim de ganhar dinheiro para gastar naquilo que gostam. Esclarecem que o cultivo do prazer inútil ajuda a escapar desta armadilha. Em vez de trabalhar sem parar e comprar sem parar, a proposta é abrir espaço para a alegria e a liberdade daquilo que é gratuito. A consequência é que podemos trabalhar menos e nos divertir muito mais – garantem.
Os capítulos se sucedem ajudando a prestar atenção nas coisas que dão muito prazer e são de graça.
É o caso de dormir uma sesta despreocupada debaixo de árvores; é o caso de pescar; de passear pela cidade, apenas para observar a vida à nossa volta, sem sucumbir ao impulso de comprar ou sem precisar realizar tarefas “úteis”.
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Entre os 100 prazeres “inúteis” listados, o livro inclui assobiar.
Opa! Assobiar?
É isto mesmo. E parece que podemos concordar com os autores. Todos lembramos de gente que assobia (ou assobiava) de um modo lindo, com volume, com melodia. Mas os assobiadores estão cada vez mais raros. Que fim levaram os assobiadores? E olha que assobiar pode ser um jeito de melhorar o nosso estado de espírito e igualmente o de quem está ao redor. Os autores do livro vão mais longe. Eles recomendam assobiar em público: no elevador, no ônibus, nas lojas. Fazer música, em vez de simplesmente consumir música pronta. Eis aí uma extraordinária fonte de prazer. “Inútil”, claro.