Minha paixão pelo jornalismo nasceu da curiosidade. Aos 55 anos continuo um fanático leitor de jornais, daqueles que adora folhear as novidades até deixar os dedos manchados de tinta preta. Todos os dias, das 7h às 19h, leio os diários gaúchos e vasculho sites e blogs. Mas confesso que nada me dá tanto prazer quando manusear as folhas ornamentadas de notícias, anúncios e fotos.
No meu local de trabalho aportam jornais de vários lugares do Brasil e do Estado. Isso permite o acesso a conteúdos de diversos locais. Por exemplo: na edição do último domingo, a Folha de S. Paulo, no caderno Cotidiano, trouxe a seguinte manchete: “Ilha de Paquetá, no Rio, tem cemitério poético com sepulturas reservadas para passarinhos”.
A reportagem fala das 24 tumbas que foram colocadas em 1940, pelo artista plástico Pedro Paulo Bruno (1888-1949). O local é cuidado por Aldemírio Penha da Encarnação, de 85 anos, desde os anos 50. Ele conta que cerca de dez aves são enterradas mensalmente por pessoas que vem de todo o Brasil.
– Uma vez uma senhora trouxe um papagaio, congelado, de São Paulo. Enterrou e foi embora, comovida – conta o zelador.
O lugar tem ainda um painel com várias poesias sobre aves. O clima poético é encontrado já na placa de entrada, com um pássaro desenhado, que traz a frase “Estou cantando para alegrar meus companheiros”.
O importante é distribuir amor, seja para pessoas ou animais
A ilha de Paquetá se localiza a pouco mais de 15 quilômetros do centro do Rio de Janeiro, onde o transporte é feito com bicicletas e charrete. Pela beleza do lugar, o cemitério tem outras funções porque são realizados saraus, piqueniques e jantares.
– É um cemitério acolhedor, em que todos querem estar ainda em vida – garante o seu Encarnação, como é conhecido o cuidador.
Alguém pode achar bobagem a existência de um lugar onde pássaros são enterrados. Mas numa época onde egoísmo, violência e falta de solidariedade nos agridem, um pouco de ternura não faz mal a ninguém.
Além disso, o amor aos animais está em alta. Basta percorrer praças, avenidas e parques para constatar este fenômeno que faz dos negócios do “segmento pet” um dos mais prósperos. Deixemos de lado a corrente que lamenta este modismo, afirmando que reflete um desvio da multidão que ama mais os animais que os próprios semelhantes.
Existe amor para todos. Basta que olhemos para dentro de nós para vasculhar valores e lembranças e distribuir carinho a quem nos cerca. Sejam pessoas, gatos, cães, pássaros e todos aqueles que nos fazem feliz.

