A notícia mais impactante da semana foi divulgada na segunda-feira pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que coloca carnes embutidas na mesma classificação de agentes cancerígenos como tabaco e bebidas alcoólicas. Duas fatias de bacon diárias aumentariam em 18% o risco de tumor colorretal, segundo o estudo.
Além do bacon, linguiça, salsicha, presunto e outras carnes processadas acabaram de ser elevadas ao patamar mais alto de uma lista não muito agradável. Corantes e aditivos potencializam os efeitos nefastos. Já o elevado consumo de carne vermelha foi associado ao câncer de intestino, a tumores no pâncreas e na próstata.
Com mais de meio século de vida aprendi a analisar este tipo de informação com certo ceticismo. O exemplo mais notório de que “nem tudo que parece realmente é” envolveu a criminalização da gema do ovo. Lembro que, quando era piá, adorava ovo frito, mas era repreendido ao devorar a parte amarela. Estudos da época asseguravam danos irreversíveis à saúde.
Décadas depois um grupo de cientistas revogou tudo, reiterou os benefícios da gema e repôs a verdade para alívio geral. Confesso que por algum tempo alimentei o ímpeto de ajuizar uma ação por danos morais, mas desisti diante do congestionamento de processos que tramitam na Justiça. Mesmo assim, guardo esta mágoa que trouxe grandes prejuízos à indústria avícola.
Tenho excelentes cozinheiros em casa. Isso dificulta qualquer esforço de adotar uma dieta mais saudável
Preparo churrasco três vezes por semana. Isso mesmo… três vezes! A saber: nas noites de quarta-feira e ao meio-dia de sábados e domingos. Ok, concordo, é um exagero, mas virou rotina e a suspensão deste arraigado hábito rende um julgamento familiar com condenação sumário do pobre churrasqueiro.
Já nas noites de domingo costumo preparar polpudas torradas com pão cacetinho recheadas por três generosas fatias de queijo e saborosas rodelas de salamito. O derretimento dos componentes entre o pão levemente tostado é sucesso de bilheteria entre os familiares refestelados diante da tevê. A torradeira permite preparar seis sanduíches de uma vez. E apesar do churrasco do almoço, o lanche é uma exigência dominical.
Mudar os hábitos alimentares é um desafio difícil de vencer. Parece fácil, no papel. Duvida? Então tente mudar sua dieta, empreender um programa de emagrecimento para o verão ou simplesmente viver de maneira mais saudável mudando o cardápio.
Além de gostar de carne e de comida em geral, tenho três excelentes cozinheiros dentro de casa. Não bastasse minha mulher fazer janta todas as noites, meus filhos de vez em quando se aventuram na cozinha produzindo delícias que são verdadeiras tentações.
Desde segunda-feira tenho refletido bastante sobre as notícias divulgadas pela OMS, mas acho difícil mudar os hábitos arraigados há tanto tempo. Tenho dificuldade de cobrar uma alimentação saudável dos meus filhos porque sou um péssimo exemplo, como vocês puderam constatar.
Resta, como consolo, intensificar os exames de rotina para detectar qualquer alerta desagradável com antecedência. Até lá, alimento a esperança de que, mais dia, menos dia, a notícia veiculada no começo da semana seja desmentida. Sonho em ler algo do tipo “ao contrário do que foi informado anteriormente, os dados da pesquisa estão incorretas”. Ou “os cientistas concluíram que carne vermelha é um ótimo preventivo contra o câncer e várias doenças”. Quem sabe…