Arroio do Meio – Nas próximas semanas a Administração Municipal vai apresentar informações logísticas em relação ao tráfego e estacionamento de caminhões na rua Presidente Vargas e transversais, no bairro Aimoré, ao Ministério Público (MP). Como a adoção de providências em curto prazo é considerada complexa, e depende de negociações com as indústrias contratantes de transporte de carga, um inquérito civil será instaurado para investigar supostos danos à coletividade e cobrar medidas por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
Na tarde de sexta-feira (16), um grupo de 30 pessoas, a maioria moradores do bairro, foi até a promotoria apresentar um abaixo-assinado com 500 assinaturas, exigindo soluções para os transtornos ligados à falta de estacionamento próprio e de um programa adequado de logística, por parte das empresas e de vias alternativas para fluxo interbairros. Além disso, há queixas de deterioração da infraestrutura e perturbação de sossego.
O promotor Paulo Estevam Araújo pediu a confiança dos moradores e assegurou que será encontrado um termo interessante para a comunidade e iniciativa privada, cobrando habilidade da Administração nas negociações. “O município pode fazer uso do Programa de Auxílio às empresas”, complementou. Em caso de desrespeito do TAC, o MP poderá ingressar com uma ação coletiva no Judiciário, e as empresas e Administração correm risco de ser notificadas com multas civis.
Na tarde de segunda-feira (19), o prefeito Sidnei Eckert, esteve reunido em seu gabinete com secretários de governo, coordenadores de departamento, representantes de entidades de classe e consultores. “Vamos continuar dialogando com moradores, empresas e entidades comunitárias, para melhorar a mobilidade urbana do bairro Aimoré. É preciso ter calma e categoria. O bairro é enquadrado como industrial, comercial e residencial. Tem que se ter em mente que se trata de uma área industrial e a maioria dos moradores e comerciantes chegaram depois”, avalia.
Solução teria sido acordada em 2007
Presentes na reunião no MP, os herdeiros da família Drebes, lembraram que em setembro de 2007 foi feito um acordo de permuta com o município, trocando a área onde está situado o estacionamento municipal de caminhões por outra. “Era uma área nobre para loteamentos. Abrimos mão sem pedir algo em troca, pela causa social, desde que fossem atendidas algumas requisições, mas nada foi feito”, comentam.
O então secretário do Planejamento, Ernani Grassi, recorda que foi feita uma escritura pública, oficializando a permuta em 2008. “Na ocasião a BRF se prontificou em oferecer infraestrutura, mas voltou atrás após a troca de governo”, explica.
Prejuízos mercadológicos dificultam adequações
A atual Administração, no governo desde 2009, continuou negociando com a BRF. O município chegou a investir R$ 160 mil em melhorias no estacionamento municipal em 2011 e 2013. Mas de lá pra cá não ocorreram as mudanças anunciadas, quanto a localização do acesso e da balança para junto do estacionamento – desafogando o número de caminhões estacionados na rua Presidente Vargas – o que também culminaria em outras adequações na planta.
Em agosto, após um acidente fatal envolvendo uma carreta, registrado no interior da empresa numa via próxima a encosta do rio Taquari, a BRF emitiu um comunicado interno para reforçar as diretrizes da norma corporativa que estabelece padrões rígidos para a condução de veículos no interior de suas unidades. A companhia também afirmou que melhorias no entorno da unidade para otimizar o fluxo de veículos estariam em estudo. O caso teve intervenção do Ministério Público do Trabalho.
Informações de bastidores dão conta de que existe uma negociação avançada com os herdeiros de José Koch. O valor inicial de R$ 6 milhões pedido pela família já teria sido reduzido para R$ 1,2 milhão. Entretanto, a mudança do local da balança para junto do estacionamento municipal e adequações mais contundentes na planta são inviáveis. Pois impactariam na cadeia produtiva, trazendo enormes prejuízos mercadológicos, o que tornaria mais vantajoso construir uma nova indústria num outro local, do que investir numa estrutura obsoleta.
Em Concórdia/SC foi necessária a instalação de um posto de chamadas, numa área fora da zona residencial para organizar o fluxo de caminhões. No entanto, há informações de que na maioria das cidades onde o MP impôs o TAC, a BRF acabou desistindo das plantas antigas.
Empresas são fundamentais para economia local
Instaladas entre as décadas de 1940 e 1970, as quatro principais indústrias do bairro, empregam atualmente aproximadamente 800 funcionários diretos e são responsáveis pela arrecadação de R$ 4,4 milhões direta ao município em 2014, representando 54% da indústria do município, de acordo com o secretário da Indústria, Comércio e Turismo, Norberto Dalpian.
Além disso, há mais de 60 estabelecimentos comerciais instalados nas imediações das ruas Presidente Vargas e da Helmuth Kuhn, que dependem da movimentação dessa mão de obra e prestadores de transporte de carga. São supermercados, armazéns, restaurantes, lancherias, bares, tornearias, oficinas, farmácia, lojas e postos de combustíveis, que empregam mais de 300 pessoas.
No bairro residem cerca de 1,6 mil moradores e há 575 domicílios. São duas instituições de ensino, com mais de 460 estudantes e 50 profissionais da educação. Três igrejas, salões comunitários e cemitério.
Principais indústrias:
Brasil Foods (BRF): controla o complexo de fábrica de rações e incubatório, instalado na década de 1970. Possui 151 funcionários e lidera o ranking municipal de retorno de valor adicionado;
Cosuel: lacticínios instalada em 1965 possui 169 funcionários e ocupa a segunda colocação no ranking;
Minuano Alimentos: controla desde 1984 a fábrica de embutidos instalada em 1974. Possui 280 colaboradores e está em 6ª colocação no ranking das maiores do Valor Adicionado;
Aimoré Couros: completou 69 anos de história no domingo (18). Possui 162 empregados e ocupa a 12ª colocação no retorno de Valor Adicionado.
Mais informações:
O bairro possui mais outros 60 estabelecimentos comerciais com cerca de 300 trabalhadores, lotados nas imediações das ruas Presidente Vargas e da Helmut Kuhn. Grande parte do público são operários das indústrias e prestadores de transporte de carga;
1,6 mil moradores, 575 domicílios, duas instituições de ensino, 460 alunos e 50 professores, três igrejas e um cemitério.