Não raro uma dúvida me assalta: como será o meu desempenho como marido, pai, amigo e profissional. É uma tarefa complexa. Não apenas pela diversidade de funções, mas pela incapacidade de julgar com imparcialidade o que, cá entre nós, é impossível. Autocrítica é fundamental, mas missão quase impossível. Já tentei um exame, digamos, técnico, mas jamais consegui concluir a tarefa. Mas vamos lá, tentar começar o ano vencendo este desafio.
Como marido, sou muito enfático, deixando de lado o conselho ministrado pelo meu falecido pai:
– Casamento é a arte de se fazer de surdo – ensinava o velho Giba.
Confesso que isso é impossível para alguém que adora falar. Além disso, estamos falando em sentimento, subjetividade, impulsos. A “absolvição” do ser amado, para manter a relação sadia, quase sempre é baseada na célebre frase de um general que jamais lembrarei o nome:
– Perdoe seus inimigos. Mas esqueça de seus nomes!
Em resumo, sempre restam ressentimentos, um complicador para a paz no lar.
Gosto do meu melhor desempenho como pai. Sou amigo, sempre, mas um grande cobrador. Sou solidário, mas não tolero falta de respeito, reincidências nefastas e mentira. Não sou sovina e costumo incentivar as mais absurdas iniciativas dos filhotes.
Nem sempre estamos preparados para os diversos papéis interpretados ao longo da vida
Em termos de amizade, mantenho um punhado de afetos que são religiosamente cumprimentados no dia do seu aniversário e nas festas de final do ano. Gosto de telefonar para manifestar a alegria de ter alguns fiéis afetos há mais de 30 anos.
Na área profissional traço brigas irreconciliáveis com meu atraso tecnológico, déficit que tento reduzir e que gera insegurança, outra marca registrada deste jornalista de 55 anos. Tento compensar estas limitações com esforço permanente de atualização do dia a dia, ligado ao rádio, à leitura de jornais, revistas e zapeando sites de informação.
Redijo colunas em jornais de cinco cidades gaúchas, uma espécie de divã para compartilhar experiências que considero divertidas ou edificantes. Não é uma tarefa fácil, afinal, o cronista não conhece seus “clientes”, o que pode gerar mal-entendidos, mensagem virulentas, fruto de interpretações diversas da intenção original do autor.
Ao longo da vida interpretamos inúmeros personagens. Às vezes não estamos preparados para um desempenho à altura da expectativa nutrida por familiares e amigos. Com o tempo, porém, a experiência fornece o molho necessário para tornar a vida um prato palatável que desperta, a cada amanhecer, renovado apetite.

