Não é preciso esforço para encontrar motivos de sentir vergonha de ser brasileiro. Basta andar pelas ruas, ver o lixo em todo lugar, flagrar a falta de educação no trânsito, a ausência de solidariedade para ao menos ajudar uma pessoa deficiente a atravessar a rua ou surpreender um batedor de carteira se aproveitando de um idoso.
Na política não tem sido diferente. Pelo contrário. Os exemplos se multiplicam com a velocidade da luz. Longe de bancar a Velhinha de Taubaté – personagem criado por Luiz Fernando Veríssimo que acredita em tudo e na versão oficial de todos – eu imaginava que ao menos em cerimônias institucionais a boa educação imperasse. Quanta ingenuidade! Recentemente fomos brindados com dois episódios que colocam uma pá de cal em qualquer esforço para recuperar o respeito e a credibilidade na atividade política.
A solenidade de abertura do ano judicial e a sessão do Congresso Nacional que contou com a presença da presidente Dilma envergonharam o cidadão que rege sua vida por princípios de civilidade. Na primeira oportunidade, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, simplesmente ignorou a presença do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, que nem no vocativo das autoridades foi citado. Não cabe julgar Cunha por seus deslizes morais, mas reconhecer a estatura do cargo que ocupa.
Sem respeitos aos princípios mínimos de educação, tudo está definitivamente perdido
Estes homens, envoltos nas mais altas funções da vida republicana do Brasil, confundem querelas pessoais com representatividade institucional, prova incontestável de ignorância, falta de postura, ausência de educação e de respeito. A todo país mostraram porque o voto nulo e em branco prolifera, apesar do risco de perpetuação dos velhacos de plantão em cargos de destaque a partir da omissão geral da obrigatoriedade do voto.
Sobre a mensagem lida pela presidente Dilma, é inadmissível que se utilize a vaia para manifestar contrariedade com o conteúdo lido ao microfone. O apupo, comum em manifestações de rua, assembleias de grêmios estudantis ou sindicatos, é uma afronta à democracia simplesmente porque impede a legítima manifestação dos contrários. No caso, era o discurso da maior autoridade democraticamente eleita do país. Isso é falta de apego à democracia.
Não votei em Dilma Roussef, tampouco aprovo os métodos escusos de Eduardo Cunha. Acho, porém, que a democracia carece um mínimo de observância aos princípios de urbanidade, consideração e respeito. Sem isso, tudo está realmente perdido.

