Talvez eu seja uma espécie de Velhinha de Taubaté, personagem criado pelo escritor e jornalista Luiz Fernando Veríssimo que acredita em tudo que ouve. É aquele tipo de pessoa que sempre, em qualquer circunstância, confia na “versão oficial”, na explicação dada pelos implicados em todo tipo de evento, por mais inverossímil que seja.
Apesar dos pesares, enxergo uma consequência didática em meio à polvadeira em que se transformou a baixaria do debate político atual. Eu acredito que as novas gerações irão além das postagens repletas de baixaria, ofensas e agressões. Creio sinceramente que eles ficarão tão vexados diante das barbaridades emergidas da Operação Lava-Jato que iniciarão uma cruzada em defesa da moralidade.
Depois da avalanche de denúncias, todos deverão fazer um mea-culpa para descobrir onde erramos em termos éticos todos os dias. É surrada a reflexão sobre o jeitinho que usamos todos os dias para passar à frente nas filas, obter favores junto a pessoas conhecidas e até usar as vagas de estacionamento preferencial (idosos, gestantes, deficientes físicos).
Não é possível prevalecer a Lei de Gerson, onde é preciso, sempre, levar vantagem em tudo
Imagine colocar um pacote de jornais – poderia ser um saco de biscoitos – e uma caixa de sapatos ao lado. Todo mundo poderia servir-se e depositar o valor correspondente na embalagem usada como cofre. Sonho com o dia em que isso que acontece nos países desenvolvidos seja realidade em nosso país. Talvez soe piegas, mas preciso acreditar que toda esta vergonheira que expõe o Brasil em termos mundiais sirva para alguma coisa.
Não é possível continuar com o modelo atual, baseada na famosa Lei de Gerson, onde é preciso, sempre e em tudo, levar vantagem. É preciso que tenhamos um sopro de decência diante do esforço de professores, pais, educadores e autoridades ligadas à segurança pública. Deixemos de lado o argumento esfarrapado para culpar nossas origens.
A desfaçatez que nossos representantes ostentam na mídia deve ir além do sentimento de vergonha que nos invade. O uso de prédios, equipamento, pessoal e estrutura pública para fazer comícios político-ideológico todos os dias deve servir de alerta para as eleições que se avizinham. O abuso da demagogia, o desrespeito às normas éticas, a postura acima das leis, a rotina de maracutaias justificadas posteriormente por caríssimos escritórios de advocacia e um sem número de chicanes jurídicas devem ser varridos do dia a dia desta nação.
Sobreviver ao tsunami antiético que assola o Brasil será natural, mas lições devem ser extraídas sob pena de repetições cíclicas. Collor, Dilma, Lula, Renan, Eduardo Cunha, Sarney, Maluf, Temer e tantos outros deveriam ornamentar o Museu do Terror Verde-Amarelo. Para servir de exemplo às gerações futuras de como “não fazer” na vida pública e privada.

