A sessão da Câmara dos Deputados realizada no último domingo é, na verdade, um espelho de proporções nacionais. Todos que manifestaram seu voto, inclusive de forma burlesca, foram democraticamente eleitos pelo nosso voto.
Quando ouço a saraivada de críticas à classe política, costumo repetir uma frase:
– Nenhum deles brotou de um dia para o outro. Eles estão lá porque alguém votou neles.
A ignorância, a falta de respeito, o ridículo, a deseducação e a ausência de postura verificados ao longo do fim de semana – de sexta-feira de manhã até a noite de domingo – é o reflexo do que se constata, por exemplo, nas redes sociais. Ali, o ódio campeia solto, com ofensas desmedidas, enterrando o debate de ideias e conceitos que enriqueceria a todos.
É ali, no mais moderno canal tecnológico, que a ostentação da própria burrice é ilustrado com selfies bizarras. A mesma postura daqueles que, mesmo não tendo direito ao voto, ficaram horas ao lado do microfone para “brilhar” em rede nacional, fazer caras e bocas e postar imagens.
O longo domingo escancarou, ainda, a falta de comprometimento que nós, eleitores temos diante da política, instrumento civilizado – e imperfeito, claro! – gerador de soluções para os problemas nacionais.
O Brasil é uma espécie de condomínio, onde todos reclamam e sempre se omitem
A esmagadora maioria dos brasileiros acredita que basta votar. E depois demonizar a política, esquecendo que foi graças à atividade parlamentar que saímos das trevas da ditadura para chegar à democracia que permite a livre manifestação. Inclusive das baboseiras que lemos e ouvimos diariamente.
Esta mesma democracia permite que nós, a cada quatro anos, possamos fornecer uma procuração em branco, de alcance municipal, estadual e federal. Permite também fiscalizar nossos representantes. Mas por comodismo inventamos todo tipo de desculpa para fugir da responsabilidade de acompanhar o comportamento de quem deveria zelar pelos interesses dos brasileiros.
É como se o Brasil fosse um enorme condomínio, onde todos se omitem de suas responsabilidades, reclamam melhorias no prédio, mas jamais comparece às reuniões para eleger o síndico, analisar as contas e discutir a necessidade de obras de manutenção.
O resultado são décadas perdidas onde o paternalismo e a demagogia geraram déficits gigantescos, a volta da inflação, além da explosão do desemprego que chega a 10 milhões de brasileiros que vagam pelas ruas em busca de trabalho.
Espero que o domingo -independentemente do resultado – tenha ao menos constrangidos aqueles que sequer lembram do nome do deputado que ajudou a eleger. O parlamento jamais será perfeito porque é composto de seres humanos. Também é humano errar, mas que não se persista em equívocos que periodicamente causam solavancos em nossa jovem democracia.