Quem gosta do inverno?
Esta simples pergunta é capaz de desencadear discussões tão acaloradas quanto o debate sobre a importância de conquistar o Gauchão. Até poucas semanas uma legião de gaúchos blasfemava contra o calor, o mormaço e as altas temperaturas misturadas à praga da umidade. Tivemos temperaturas perto de 40 graus em abril que, em 2016, foi o mais quente da história, segundo ouvi no Jornal Nacional.
Agora o inverno chega devagarito. No final de semana tivemos um quadro de profundo contraste. Foi um sábado luminoso, daqueles de cinema, sob encomenda. Sol, temperatura amena, ausência de vento. Já no domingo… as coisas lembraram o velho Rio Grande: vento, chuva forte, umidade, tudo cinza escuro. Refúgio no sofá, soterrado de cobertas…
Ao longo da semana houve alternância de nuvens, minuano zunindo nas orelhas e pés gelados sob pesados cobertores. E nem dá pra reclamar, não é mesmo? Todo mundo, que sobrevive aqui no Estado, sabe que é assim desde que o mundo é mundo. Calor de rachar hoje e, poucos dias depois, gelo em forma de termômetro despencando.
Pinhão e bergamota estão pela hora da morte, comprometendo tradições do inverno gaudério
O agravamento dos casos de gripe é o sinal mais evidente de que é preciso ter muito cuidado e encarar o inverno com seriedade. Quem não se vacinou – como eu – deve redobrar as atenções. Tomei um susto há duas semanas, com febre, tremores e dores generalizadas pelo corpo. Um final de semana “de molho”, vendo tevê e ingerindo muito líquido (sem álcool) resolveu o problema. Mas o susto foi grande. Serviu de alerta.
As notícias negativas do inverno envolvem duas tradições arraigadas. A primeira é o consumo do pinhão que está seriamente ameaçado em função da escassez da safra. Por consequência, temos uma elevação inédita do preço. Já vi pinhão a 14 reais o quilo, o que me pode gerar um novo levante farroupilha. Afinal, trata-se de um hábito de infância que está refreado. E com isso não se brinca!
Outra coisa que me deixa furioso é a péssima qualidade das bergamotas oferecidas em feiras e supermercados, fenômenos já registrados no ano passado e que também envolvem as laranjas de umbigo. Além do preço exorbitante, nem a famosa variedade pokam apresentam boa aparência, embora nas sinaleiras seja possível comprar três pacotes por 10 reais. Prefiro as chamadas mexericas, com o cheiro característico “de inverno”, ao invés do excesso de cascas da pokam.
Mas não adianta chorar. O frio veio para ficar por bom tempo. Cobertor, café, bolo com cobertura de chocolate, vinho tinto, sopa de capeletti, mocotó… Sirva-se, sem culpa, sem olhar para a balança. Curta o friozinho que vem por aí!

