Tenho um casal de filhos de 20 e 22 anos. Idade que une a inconstância da adolescência com chispas de responsabilidade, típica dos “quase adultos”. Frequentemente eles me surpreendem ao colocar em pauta temas de profundidade que chamam minha atenção pela complexidade. Minutos depois, agem como crianças, até sentam no meu colo para “lembrar os bons tempos”, citando momentos inesquecíveis.
Os finais de semana têm noites de casa vazia, quase silêncio. São aniversários, festas, encontro de turmas – de colégio e faculdade -, amizades fornidas ao longo de anos. Eles mantêm amigos de oito, nove anos, motivo de rodas de chope – ou cerveja artesanal, como reza a moda – ou de churrascos de salsichão com pão cacetinho, no famoso “salsipão”.
Estas noites, por vezes, geram temor, angústia até. Somente o ruído da chave girando na fechadura é bálsamo suficiente para acalmar o coração, aplacar os medos, espantar os fantasmas. A violência onipresente não poupa ninguém. Aflige, agride, revolta, enluta famílias, dilacera vidas em profusão.
Eles me ensinam a cada dia e de maneira generosa fingem que ensino algo a eles
Nossa parceria com os filhos é fruto de anos de parceria, “cumplicidade do bem”, companhia para programas que vão de uma simples sessão de cinema até shows das Chiquititas – especialidade da minha mulher -, além de jogos no Beira-Rio (com o filho colorado) ou no finado Estádio Olímpico (com a filha gremista). Tudo isso com chuva, neblina ou calor de rachar.
É claro que há crises, momentos de revolta recíproca, incompreensões e outros sentimentos menos nobres. Mas, confesso, o saldo tem sido altamente positivo. Os atritos são inevitáveis. E até saudáveis. “A gente precisa aprender a discutir”, repito, diante do olhar atônico da minha mulher ao voar das chispas durante as polêmicas que travo principalmente com meu filho, como temperamento é idêntico ao meu.
Ter filhos é um investimento permanente que não cessa ou diminui e que jamais deixa de render lucros. Não exige muito: atenção, paciência em grandes quantidades e cuidados/zelo. Mesmo longe fisicamente estaremos sempre presente de espírito, coração, alma.
Meus filhos são meus melhores amigos.
São duas décadas de companheirismo lastreado na sinceridade. Sou um privilegiado. Eles me ensinam a cada dia e, de maneira generosa, fingem que ensino algo a eles.

