Bordar é realizar um trabalho muito criativo. Consiste em enfeitar tecidos à mão, com a ajuda de linha e agulha.
Na época anterior às máquinas, os bordados davam graça aos vestidos das damas, como também ao enxoval da casa. Nesse tempo, bordar fazia parte das habilidades cultivadas pelas mulheres prendadas. Era natural que o trabalho manual fosse importante. Havia poucos recursos além deste para dar distinção às roupas. Com a chegada das máquinas a história mudou, como todos sabemos.
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No meu tempo de guria, nas aulas de trabalhos manuais, o bordado merecia destaque especial. Tanto que aprendi a bordar – acredite você ou não – em tecidos diferentes e a realizar variados tipos de pontos, que é como se chamam as numerosas técnicas existentes. Alguns pontos eram mais difíceis, como o “crivo” e o ponto pintura agulha. Outros, nem tanto. Era o caso dos pontos aplicados em lençóis. Mas aí o desafio era outro. O desafio se concentrava em conseguir completar a tarefa.
Sucedia que, a cada fim de ano, havia exposição dos trabalhos realizados, assim a peça tinha de estar pronta e pouca gente estava em dia com a obrigação. Não admira, por isso, que uma atucanação coletiva carregava o ambiente escolar naquela reta final. Sim, claro, sempre havia o recurso de convocar a família para um mutirão. Mas nem todo o mundo podia contar com a boa vontade da mãe ou com a colaboração de alguma alma indulgente…
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Com a profissionalização feminina, o bordado e demais “prendas” domésticas passaram para um segundo plano. Isso, a tal ponto que algumas habilidades praticamente se perderam.
Muitas delas, todavia, começam a ser reabilitadas. É exatamente este o caso do bordado.
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O bordado está voltando à moda com força, embora tenha um sentido diferente agora. Deixou de ser o melhor jeito para enfeitar vestidos e itens domésticos. Peças industrializadas estão disponíveis por preço menor do que custaria produzi-los em casa e são lindas. Bordar voltou mais como hobby, como terapia.
Em vez de seguir padrões rígidos, a onda é dar asas à imaginação. Cabe inventar, misturar cores e pontos, utilizar tecidos inesperados, criar efeitos novos, ou seja, soltar a franga com a ajuda da agulha e da linha.
Mais: dá para bordar sozinho ou em grupo. Quem borda sozinho tem chance de deixar a mente vagar, ao mesmo tempo que curte a alegria de dar vida a uma obra. Quem borda com outros encontra incentivo para mexer com todos os riscos, tem a melhor companhia para admirar o trabalho e ainda pode rir e falar, pois a atividade das mãos não ocupa a cabeça. Pelo contrário, a cabeça entra no embalo das mãos e até aumenta a coragem para erguer belos castelos no ar. É o legítimo pintar e bordar.