Desde seus primeiros passos na Estância de Ramada, lá no Irapuá, em Cachoeira do Sul (RS), Ramiro Fortes de Barcellos parecia seguro quanto à carreira que mereceria sua exclusividade: queria ser médico. Por isso, quando concluiu o Curso de Medicina, no Rio de Janeiro (1873, aos 22 anos), logo começou a clinicar em Cachoeira, seguindo o sonho que acalentara desde guri.
Não demorou três anos e a política começou a exigir o seu lugar na vida daquele moço que gostava de poemas, crônicas, tinha um grande círculo de amizades e era respeitado por todos. Quem primeiro viu nele a chama da política foi Gaspar Silveira Martins, cujo convite para que Ramiro concorresse a Deputado Provincial pelo Partido Liberal até não foi bem entendido.
Afinal de contas, o PL era conservador – o que queria dizer monarquista – enquanto Ramiro era republicano, defendia ideias semelhantes a dos farroupilhas, cuja saga havia acontecido quatro décadas antes.
Mas foi mesmo como Deputado Provincial do Partido Liberal que o político Ramiro Barcellos começou. De 1877 a 1882 foi reeleito sempre sem dificuldades (os mandatos eram de dois anos). Em meio ao terceiro mandato (1881), sua desavença com Silveira Martins não permitia mais qualquer acordo e o Manifesto aos Eleitores (1º de outubro) com o qual lançou sua candidatura, não deixou qualquer dúvida.
1882 foi um ano-chave para Ramiro: assumiu como cirurgião-chefe na SantaCasa de Misericórdia de Porto Alegre; publicou, em folhetim, seu estudo A Revolução de 1835 no Rio Grande do Sul (primeira obra de um gaúcho sobre a Revolução Farroupilha e editada aqui); entrou para o PRR (Partido Republicano Rio-Grandense) e teve seu nome incluído na chapa republicana para as eleições provinciais.
A entrada no PRR aproximou-o de Júlio de Castilhos, parceria que mais tarde faria de Ramiro o Diretor d’A Federação, o jornal oficial do Partido. Intensificou aí o uso do pseudônimo Amaro Juvenal, para criticar Silveira Martins e sua posição monárquica.
Em 1887 viajou a Paris, encontrou-se com Pasteur e trouxe deste encontro a confirmação de suas posições científicas favoráveis à Teoria Microbiana, que passou a defender na prática clínica e nos foros políticos. Em 1888 estourou a pressão abolicionista.
A monarquia ainda resistiu cerca de um ano, tendo colocado Gaspar Silveira Martins na presidência do Estado, onde aliás só ficou três meses e meio.
A 15 de novembro foi deposto o Gabinete do Visconde de Ouro Preto, que chefiava a última tentativa liberal no país.
Ao mesmo tempo em que a República era proclamada pelo Marechal Deodoro, assumia a presidência do Estado o Marechal
Câmara (José Antônio Corrêa da Câmara), que levou Júlio de Castilhos, Antão de Farias e Ramiro Barcellos para seu secretariado, este último na Pasta da Fazenda.
O período era de turbulência. O ano seguinte, 1890, teve o efeito de um misturador gigante. Ramiro Barcellos assumiu a Provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre em janeiro (a entregaria pouco mais de um ano depois, sem ter feito nada que desejava, pressionado pela incerteza da política); saiu da Secretaria da Fazenda do Estado em fevereiro, pois uma discussão com Júlio de Castilhos derrubou o Marechal Câmara da presidência do Estado.
Ramiro aceitou o cargo de Ministro Plenipotenciário do Brasil no Uruguai, mas demitiu-se três meses depois, motivado pela situação do país; em novembro, a coisa serenou um pouco: foi indicado Senador pelo Rio Grande do Sul, o que se repetiria em 1900.
Um pouco antes de terminar o 2º mandato, Ramiro afastou-se do Senado e passou a acompanhar, de perto, o projeto dos melhoramentos no Porto de Rio Grande.
Em 1915, terminados os trabalhos do Porto, começou a pensar na campanha para o Senado, que terminaria em enorme fracasso: seria derrotado por Hermes da Fonseca, mais tarde Presidente do Brasil, por 63.329 a 3.519 votos. Terminou o ano de 1915 escrevendo 7 artigos no Correio do Povo, salientando sempre que um contemporâneo, Amaro Juvenal, contaria a história de Antônio Chimango, na verdade, Borges de Medeiros. Ramiro faleceu a 29 de janeiro de 1916.
Na próxima Portal Mix, Amaro Juvenal e seu Antônio Chimango.